sábado, 11 de setembro de 2010

Troia Destruída

Um ruído ao redor
Ruge tal qual um leão
Quem não tem medo da morte
Dentre o breu da escuridão

Uma fraca luz opaca
A cegar um homem são
Cujo mar põe-se em ressaca
Ladra amargo como um cão

Cão raivoso endiabrado
Gane em uivos seu rosnado
Trevas névoas maresia
Grita o homem por Maria

Tende piedade, santa!
Dai-me no frio tua manta
Este gelo me congela
Sou a besta sob a sela

A galgar o solo estéril
De um mundo sem mistérios
Parcamente iluminado
Iludido - contentado

E eu cá ensandecido
A buscar meu mar de Vigo
Neste chão malsão postiço
Mergulhado no feitiço

No terreno movediço
Torno sempre ao início
Deste meu fim fronteiriço
Em meu ser em si omisso

Rima-se, beira-se ao nada
Jaz minhalma desnudada
Me repito rumo ao nada
Nado n'água adocicada

De meu sonho ambicioso
De ser tudo sobre a Terra
Onde a guerra me desterra
E meu pranto é copioso.

***

Tive a inspiração de escrever este logo depois de ver o filme Vivendo no Limite (1999, dir. Martin Scorsese), e em seguida ler o pequeno - e impactante! - livro Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk (1865, trad. Paulo Bezerra), do ainda pouco conhecido escritor russo Nikolai Leskov (1831 - 1895).

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