Há 12 horas
terça-feira, 30 de junho de 2009
Lose lose and you Win
In a lose-lose scenario, I won. How does it feel? It feels as life should always be felt: magical, surreal, a workable patchwork of dreams and fantasies come (or not) true. As always, it is up to you.
Messe
Recaiu em culpa, o desgraçado. Fitou o céu, aflito. Falou a língua dos homens, um grito. A Mãe o chamava de volta ao útero. Era hora de se separar da vida, reintegrar-se ao feto, afeto, morto, amado e quieto. Ali. Seu nome o chamava.
Toda prece tem um preço, com ou sem apreço. Esta prece eu ofereço. Co'esta prece eu agradeço, enriqueço meu lugar. Minha chama, minha lama, meu molde, meu lar. Já não há o que dizer, nem o que exclamar. A mão que apalpa a terra, vibra e treme, estremece. É essa a mão que roga a prece.
A Deus.
Toda prece tem um preço, com ou sem apreço. Esta prece eu ofereço. Co'esta prece eu agradeço, enriqueço meu lugar. Minha chama, minha lama, meu molde, meu lar. Já não há o que dizer, nem o que exclamar. A mão que apalpa a terra, vibra e treme, estremece. É essa a mão que roga a prece.
A Deus.
Ausência Permanente (ou permanência ausente?)
Fico pensando em todas essas coisas que ninguém quer pensar.
Marasmado. E se um dia eu virasse o bicho-come-pau, e as mazelas sobre mim? E se um dia, eu ficasse diferente, inaceitável, e se fosse assim?
O que diriam de mim?
"Esse aí já não mais é jasmim".
"Antes só ria, sorria, e agora... eh, agora... já não reconheço mais."
E então, de bonzinho, tornar-me-ia o bicho papão. A viva negação. Marylin Manson, um lunático, a pessoa em solidão.
Nenhum Fernando Pessoa, não. O poeta que é poeta, não vive de tristeza. Vive de ardor - seja na forma de ódio, seja na de amor.
Se é que alguém transpõe tal palavra em algum gesto além do sacro e santo amor filial, paternal, maternal, as formas mais puras subsistentes.
Quando há.
Marasmado. E se um dia eu virasse o bicho-come-pau, e as mazelas sobre mim? E se um dia, eu ficasse diferente, inaceitável, e se fosse assim?
O que diriam de mim?
"Esse aí já não mais é jasmim".
"Antes só ria, sorria, e agora... eh, agora... já não reconheço mais."
E então, de bonzinho, tornar-me-ia o bicho papão. A viva negação. Marylin Manson, um lunático, a pessoa em solidão.
Nenhum Fernando Pessoa, não. O poeta que é poeta, não vive de tristeza. Vive de ardor - seja na forma de ódio, seja na de amor.
Se é que alguém transpõe tal palavra em algum gesto além do sacro e santo amor filial, paternal, maternal, as formas mais puras subsistentes.
Quando há.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
My inner struggle
I feel unsure
I fell ashamed
And so my blood will go unnamed
***
Day by day I fight hell
I try but I can't yell
Day by day is what I smell
The fire that won't cease
The thirst that I can't quell
This soul I will not sell
Even though I die in hell
Here comes again the knell
The water flushing up the well
Here I hear again the knell
It's my time, my chance
My wriggled tree
That I must fell
***
This I write to the maimed man I saw in the subway. My fate could have (or can still) be his. Thank you for showing me the way in. More grateful I couldn't have been.
I fell ashamed
And so my blood will go unnamed
***
Day by day I fight hell
I try but I can't yell
Day by day is what I smell
The fire that won't cease
The thirst that I can't quell
This soul I will not sell
Even though I die in hell
Here comes again the knell
The water flushing up the well
Here I hear again the knell
It's my time, my chance
My wriggled tree
That I must fell
***
This I write to the maimed man I saw in the subway. My fate could have (or can still) be his. Thank you for showing me the way in. More grateful I couldn't have been.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Procedimento Padrão
Tem alguém embaixo da farda?
Debaixo da cara mostarda?
Sob a luz dos olhos parda?
Alguém?
Ninguém?
Quem?
Tem:
Um sujeito indefinido
Sem sangue
Sem pinta
Sem sarda
É esse o alguém por debaixo da farda.
Debaixo da cara mostarda?
Sob a luz dos olhos parda?
Alguém?
Ninguém?
Quem?
Tem:
Um sujeito indefinido
Sem sangue
Sem pinta
Sem sarda
É esse o alguém por debaixo da farda.
sábado, 13 de junho de 2009
Tutuzim
Vai todo mundo junto
Sem pressa, senhora
O nosso assunto
É ir-nos embora
Ir em conjunto
Amanhã ou agora
Quero é muito
Tratar-te por tu
E na tua maloca
Comer um tutu.
Sem pressa, senhora
O nosso assunto
É ir-nos embora
Ir em conjunto
Amanhã ou agora
Quero é muito
Tratar-te por tu
E na tua maloca
Comer um tutu.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Fora PM do Campus
Este é um dos melhores vídeos independentes/amadores acerca do ocorrido no campus da USP, na terça-feira, 09/06/2009. Posto aqui para que as pessoas fora do âmbito uspiano tenham uma ideia mais clara sobre o tão-falado "conflito", "embate", e tantos outros nomes que mitigam a verdadeira palavra "ataque".
Quem vir, não deixe de contribuir com seu comentário.
Quem vir, não deixe de contribuir com seu comentário.
Texto do professor Pablo Ortellado
Quero publicar aqui no blog o texto de professores da USP, onde faço Letras, que concatenam mui bem com a minha própria visão sobre a atual greve, e a violência recentemente transcorrida no interior da universidade.
Nesta altura, saí da manifestação, porque se iniciava assembléia dos docentes da USP que seria realizada no prédio da História/ Geografia. No decorrer da assembléia, chegaram relatos que a tropa de choque havia agredido os estudantes e funcionários e que se iniciava um tumulto de grandes proporções. A assembléia foi suspensa e saímos para o estacionamento e descemos as escadas que dão para a avenida Luciano Gualberto para ver o que estava acontecendo. Quando chegamos na altura do gramado, havia uma multidão de centenas de pessoas, a maioria estudantes correndo e a tropa de choque avançando e lançando bombas de concusão (falsamente chamadas de “efeito moral” porque soltam estilhaços e machucam bastante) e de gás lacrimogêneo. A multidão subiu correndo até o prédio da História/ Geografia, onde a assembléia havia sido interrompida e começou a chover bombas no estacionamento e entrada do prédio (mais ou menos em frente à lanchonete e entrada das rampas).
Sentimos um cheiro forte de gás lacrimogêneo e dezenas de nossos colegas começaram a passar mal devido aos efeitos do gás – lembro da professora Graziela, do professor Thomás, do professor Alessandro Soares, do professor Cogiolla, do professor Jorge Machado e da professora Lizete todos com os olhos inchados e vermelhos e tontos pelo efeito do gás. A multidão de cerca de 400 ou 500 pessoas ficou acuada neste edifício cercada pela polícia e 4 helicópteros. O clima era de pânico. Durante cerca de uma hora, pelo menos, se ouviu a explosão de bombas e o cheiro de gás invadia o prédio. Depois de uma tensão que parecia infinita, recebemos notícia que um pequeno grupo havia conseguido conversar com o chefe da tropa e persuadido de recuar. Neste momento, também, os estudantes no meio de um grande tumulto haviam conseguido fazer uma pequena assembléia de umas 200 pessoas (todas as outras dispersas e em pânico) e deliberado descer até o gramado (para fazer uma assembléia mais organizada). Neste momento, recebi notícia que meu colega Thomás Haddad havia descido até a reitoria para pedir bom senso ao chefe da tropa e foi recebido com gás de pimenta e passava muito mal. Ele estava na sede da Adusp se recuperando.
Durante a espera infinita no pátio da História, os relatos de agressões se multiplicavam. Escutei que a diretoria do Sintusp foi presa de maneira completamente arbitrária e vi vários estudantes que haviam sido espancados ou se machucado com as bombas de concusão (inclusive meu colega, professor Jorge Machado). Escutei relato de pelo menos três professores que tentaram mediar o conflito e foram agredidos. Na sede da Adusp, soube, por meio do relato de uma professora da TO que chegou cedo ao hospital que pelo menos dois estudantes e um funcionário haviam sido feridos. Dois colegas subiram lá agora há pouco (por volta das 7 e meia) e tiveram a entrada barrada – os seguranças não deixavam ninguém entrar e nenhum funcionário podia dar qualquer informação.
Uma outra delegação de professores foi ao 93o DP para ver quantas pessoas haviam sido presas. A informação incompleta que recebo até agora é que dois funcionários do Sintusp foram presos – mas escutei relatos de primeira pessoa de que haveria mais presos A situação, agora, é de aparente tranquilidade. Há uma assembléia de professores que se reuniu novamente na História e estou indo para lá. A situação é gravíssima. Hoje me envergonho da nossa universidade ser dirigida por uma reitora que, alertada dos riscos (eu mesmo a alertei em reunião na última sexta-feira), autorizou que essa barbárie acontecesse num campus universitário.
Estou cercado de colegas que estão chocados com a omissão da reitora. Na minha opinião, se a comunidade acadêmica não se mobilizar diante desses fatos gravíssimos, que atentam contra o diálogo, o bom senso e a liberdade de pensamento e ação, não sei mais.
Por favor, se acharem necessário, reenviem esse relato a quem julgarem que é conveniente.
Cordialmente,
***
PABLO ORTELLADO
Hoje, as associações de funcionários, estudantes e professores haviam deliberado por uma manifestação em frente à reitoria. A manifestação, que eu presenciei, foi completamente pacífica. Depois, as organizações de funcionários e estudantes saíram em passeata para o portão 1 para repudiar a presença da polícia do campus. Embora a Adusp não tivesse aderido a essa manifestação, eu, individualmente, a acompanhei para presenciar os fatos que, a essa altura, já se anunciavam. Os estudantes e funcionários chegaram ao portão 1 e ficaram cara a cara com os policiais militares, na altura da avenida Alvarenga. Houve as palavras de ordem usuais dos sindicatos contra a presença da polícia e xingamentos mais ou menos espontâneos por parte dos manifestantes. Estimo cerca de 1200 pessoas nesta manifestação.PABLO ORTELLADO
Nesta altura, saí da manifestação, porque se iniciava assembléia dos docentes da USP que seria realizada no prédio da História/ Geografia. No decorrer da assembléia, chegaram relatos que a tropa de choque havia agredido os estudantes e funcionários e que se iniciava um tumulto de grandes proporções. A assembléia foi suspensa e saímos para o estacionamento e descemos as escadas que dão para a avenida Luciano Gualberto para ver o que estava acontecendo. Quando chegamos na altura do gramado, havia uma multidão de centenas de pessoas, a maioria estudantes correndo e a tropa de choque avançando e lançando bombas de concusão (falsamente chamadas de “efeito moral” porque soltam estilhaços e machucam bastante) e de gás lacrimogêneo. A multidão subiu correndo até o prédio da História/ Geografia, onde a assembléia havia sido interrompida e começou a chover bombas no estacionamento e entrada do prédio (mais ou menos em frente à lanchonete e entrada das rampas).
Sentimos um cheiro forte de gás lacrimogêneo e dezenas de nossos colegas começaram a passar mal devido aos efeitos do gás – lembro da professora Graziela, do professor Thomás, do professor Alessandro Soares, do professor Cogiolla, do professor Jorge Machado e da professora Lizete todos com os olhos inchados e vermelhos e tontos pelo efeito do gás. A multidão de cerca de 400 ou 500 pessoas ficou acuada neste edifício cercada pela polícia e 4 helicópteros. O clima era de pânico. Durante cerca de uma hora, pelo menos, se ouviu a explosão de bombas e o cheiro de gás invadia o prédio. Depois de uma tensão que parecia infinita, recebemos notícia que um pequeno grupo havia conseguido conversar com o chefe da tropa e persuadido de recuar. Neste momento, também, os estudantes no meio de um grande tumulto haviam conseguido fazer uma pequena assembléia de umas 200 pessoas (todas as outras dispersas e em pânico) e deliberado descer até o gramado (para fazer uma assembléia mais organizada). Neste momento, recebi notícia que meu colega Thomás Haddad havia descido até a reitoria para pedir bom senso ao chefe da tropa e foi recebido com gás de pimenta e passava muito mal. Ele estava na sede da Adusp se recuperando.
Durante a espera infinita no pátio da História, os relatos de agressões se multiplicavam. Escutei que a diretoria do Sintusp foi presa de maneira completamente arbitrária e vi vários estudantes que haviam sido espancados ou se machucado com as bombas de concusão (inclusive meu colega, professor Jorge Machado). Escutei relato de pelo menos três professores que tentaram mediar o conflito e foram agredidos. Na sede da Adusp, soube, por meio do relato de uma professora da TO que chegou cedo ao hospital que pelo menos dois estudantes e um funcionário haviam sido feridos. Dois colegas subiram lá agora há pouco (por volta das 7 e meia) e tiveram a entrada barrada – os seguranças não deixavam ninguém entrar e nenhum funcionário podia dar qualquer informação.
Uma outra delegação de professores foi ao 93o DP para ver quantas pessoas haviam sido presas. A informação incompleta que recebo até agora é que dois funcionários do Sintusp foram presos – mas escutei relatos de primeira pessoa de que haveria mais presos A situação, agora, é de aparente tranquilidade. Há uma assembléia de professores que se reuniu novamente na História e estou indo para lá. A situação é gravíssima. Hoje me envergonho da nossa universidade ser dirigida por uma reitora que, alertada dos riscos (eu mesmo a alertei em reunião na última sexta-feira), autorizou que essa barbárie acontecesse num campus universitário.
Estou cercado de colegas que estão chocados com a omissão da reitora. Na minha opinião, se a comunidade acadêmica não se mobilizar diante desses fatos gravíssimos, que atentam contra o diálogo, o bom senso e a liberdade de pensamento e ação, não sei mais.
Por favor, se acharem necessário, reenviem esse relato a quem julgarem que é conveniente.
Cordialmente,
PABLO ORTELLADO é professor doutor da Universidade de São Paulo.
Texto do professor Vladimir Safatle
Quero publicar aqui no blog o texto de professores da USP, onde faço Letras, que concatenam mui bem com a minha própria visão sobre a atual greve, e a violência recentemente transcorrida no interior da universidade.
Em vez de estigmatizar os alunos e tratá-los como delinquentes, talvez seja o caso de se perguntar contra o que eles se manifestam AS CENAS de batalha campal que vimos nesta semana na USP ficarão na memória daqueles que dedicam sua vida a essa instituição. Vários professores, como eu, que nunca participaram de movimento sindical, que nem sequer foram alguma vez a uma assembleia, veem com estarrecimento a disseminação da crença de que conflitos trabalhistas devem ser resolvidos apelando sistematicamente à polícia.
Diz-se que a polícia era necessária para evitar piquetes e degradações. No entanto, tudo o que ela conseguiu foi acirrar os ânimos e aumentar exponencialmente os dois. Vale a pena lembrar que, por mais que sejam práticas problemáticas que precisam certamente ser revistas, os piquetes estão longe de se configurarem como ações criminosas. A história das sociedades democráticas demonstra como eles foram, em muitos casos, peças necessárias de um processo de ampliação de direitos. Cabe a nós provar que esse tempo passou e que, devido à capacidade de diálogo, tais práticas não têm mais lugar.
No entanto, quando se tenta reduzir manifestantes que procuram melhorias em suas condições de trabalho a tresloucados patológicos que nada têm a dizer, que não têm nenhuma racionalidade em suas demandas, dificilmente alguma forma de diálogo conseguirá se impor. Melhor seria começar explicando qual racionalidade justifica que a universidade mais importante do país, responsável por parte significativa da pesquisa nacional, tenha salários menores que os de uma universidade federal em qualquer Estado brasileiro.
Por outro lado, há algo incompreensível na crença de que a polícia possa ser chamada para mediar conflitos com alunos e funcionários públicos. Muitos acreditam que ligarão para o 190 e receberão uma espécie de "polícia inglesa" capaz de agir de maneira minimamente adequada diante de cidadãos que se manifestam. Contudo, o que vimos até agora foi uma polícia que entrou pela primeira vez no campus armada com metralhadoras, quando a ação padrão deveria ser, nessas situações, agir desarmada. Quem tem uma metralhadora nas mãos imagina que porventura poderá usá-la. Mas contra quem? Contra nossos alunos? E quem decidirá o momento de usá-la?
Como se isso não bastasse, uma polícia bem preparada não responde a provocações de gritos e latas com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha usadas na frente da Escola de Aplicação e de uma faculdade em que, normalmente, há crianças e adolescentes. O que aconteceria se uma bala de borracha atingisse uma criança, ampliando um pouco mais o enorme contingente de balas perdidas disparadas pela polícia?
Antes de ligar para a Polícia Militar, valeria a pena levar em conta seu despreparo manifesto em intervenções em conflitos sociais, histórico catastrófico mundialmente criticado por órgãos internacionais. Nenhum leitor terá dificuldade de se lembrar de situações de conflito social nas quais policiais que se sentiram acuados reagiram de maneira descontrolada, provocando tragédias. Por fim, contrariamente a certa ideia que um anti-intelectualismo militante gosta de veicular nestes momentos, vários alunos alvos de balas de borracha são extremamente dedicados em seus cursos, participam sistematicamente de colóquios e programas de pesquisa, apresentam "papers" em congressos e podem ser constantemente encontrados em nossas bibliotecas.
Sendo certo que vêm de todas as faculdades de nossa universidade (e não apenas da área de humanas, como alguns querem fazer acreditar), é inaceitável tratá-los como delinquentes potenciais. Dentre os 2.000 estudantes que se manifestaram nesta semana estão alguns de nossos melhores alunos. Em vez de estigmatizá-los, talvez seja o caso de se perguntar contra o que eles se manifestam, já que, é sempre bom lembrar, antes da entrada da polícia, nem professores nem alunos estavam em greve. A greve restringia-se a funcionários.
Há um mês, em uma pequena cidade francesa, a polícia recebeu um chamado de possível furto. Em uma atuação "exemplar", ela estava em alguns minutos no local do crime. No entanto, o local era uma escola, o objeto furtado, uma bicicleta, e o possível ladrão, uma criança de dez anos. Sem pestanejar, a polícia retirou a criança da escola na frente de seus colegas, levou-a à delegacia, colheu seu depoimento e a fichou. Possivelmente, foi contra esse modelo social baseado na incapacidade de resolver conflitos sem apelar à mais crassa brutalidade securitária que hoje nossos alunos se manifestam. Cabe a nós mostrar a eles que a história da USP é outra.
***
VLADIMIR SAFATLE
Em vez de estigmatizar os alunos e tratá-los como delinquentes, talvez seja o caso de se perguntar contra o que eles se manifestam AS CENAS de batalha campal que vimos nesta semana na USP ficarão na memória daqueles que dedicam sua vida a essa instituição. Vários professores, como eu, que nunca participaram de movimento sindical, que nem sequer foram alguma vez a uma assembleia, veem com estarrecimento a disseminação da crença de que conflitos trabalhistas devem ser resolvidos apelando sistematicamente à polícia.
Diz-se que a polícia era necessária para evitar piquetes e degradações. No entanto, tudo o que ela conseguiu foi acirrar os ânimos e aumentar exponencialmente os dois. Vale a pena lembrar que, por mais que sejam práticas problemáticas que precisam certamente ser revistas, os piquetes estão longe de se configurarem como ações criminosas. A história das sociedades democráticas demonstra como eles foram, em muitos casos, peças necessárias de um processo de ampliação de direitos. Cabe a nós provar que esse tempo passou e que, devido à capacidade de diálogo, tais práticas não têm mais lugar.
No entanto, quando se tenta reduzir manifestantes que procuram melhorias em suas condições de trabalho a tresloucados patológicos que nada têm a dizer, que não têm nenhuma racionalidade em suas demandas, dificilmente alguma forma de diálogo conseguirá se impor. Melhor seria começar explicando qual racionalidade justifica que a universidade mais importante do país, responsável por parte significativa da pesquisa nacional, tenha salários menores que os de uma universidade federal em qualquer Estado brasileiro.
Por outro lado, há algo incompreensível na crença de que a polícia possa ser chamada para mediar conflitos com alunos e funcionários públicos. Muitos acreditam que ligarão para o 190 e receberão uma espécie de "polícia inglesa" capaz de agir de maneira minimamente adequada diante de cidadãos que se manifestam. Contudo, o que vimos até agora foi uma polícia que entrou pela primeira vez no campus armada com metralhadoras, quando a ação padrão deveria ser, nessas situações, agir desarmada. Quem tem uma metralhadora nas mãos imagina que porventura poderá usá-la. Mas contra quem? Contra nossos alunos? E quem decidirá o momento de usá-la?
Como se isso não bastasse, uma polícia bem preparada não responde a provocações de gritos e latas com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha usadas na frente da Escola de Aplicação e de uma faculdade em que, normalmente, há crianças e adolescentes. O que aconteceria se uma bala de borracha atingisse uma criança, ampliando um pouco mais o enorme contingente de balas perdidas disparadas pela polícia?
Antes de ligar para a Polícia Militar, valeria a pena levar em conta seu despreparo manifesto em intervenções em conflitos sociais, histórico catastrófico mundialmente criticado por órgãos internacionais. Nenhum leitor terá dificuldade de se lembrar de situações de conflito social nas quais policiais que se sentiram acuados reagiram de maneira descontrolada, provocando tragédias. Por fim, contrariamente a certa ideia que um anti-intelectualismo militante gosta de veicular nestes momentos, vários alunos alvos de balas de borracha são extremamente dedicados em seus cursos, participam sistematicamente de colóquios e programas de pesquisa, apresentam "papers" em congressos e podem ser constantemente encontrados em nossas bibliotecas.
Sendo certo que vêm de todas as faculdades de nossa universidade (e não apenas da área de humanas, como alguns querem fazer acreditar), é inaceitável tratá-los como delinquentes potenciais. Dentre os 2.000 estudantes que se manifestaram nesta semana estão alguns de nossos melhores alunos. Em vez de estigmatizá-los, talvez seja o caso de se perguntar contra o que eles se manifestam, já que, é sempre bom lembrar, antes da entrada da polícia, nem professores nem alunos estavam em greve. A greve restringia-se a funcionários.
Há um mês, em uma pequena cidade francesa, a polícia recebeu um chamado de possível furto. Em uma atuação "exemplar", ela estava em alguns minutos no local do crime. No entanto, o local era uma escola, o objeto furtado, uma bicicleta, e o possível ladrão, uma criança de dez anos. Sem pestanejar, a polícia retirou a criança da escola na frente de seus colegas, levou-a à delegacia, colheu seu depoimento e a fichou. Possivelmente, foi contra esse modelo social baseado na incapacidade de resolver conflitos sem apelar à mais crassa brutalidade securitária que hoje nossos alunos se manifestam. Cabe a nós mostrar a eles que a história da USP é outra.
VLADIMIR SAFATLE, 36, é professor do Departamento de Filosofia da
Universidade de São Paulo.
Universidade de São Paulo.
Prece Gnóstica
Se eu estivesse só no mundo, só veria tua imagem. Desnudo, mudo, em luto, tu serias a miragem. E das selvas resplendentes, e das rochas transluzentes, queimaria a sarça ardente, a rocha bruta, a água fria. Nem sempre se pode dormir, e ruir o mundo que o dia soeu erigir. Assim sou eu, ilhado, náufrago e anátema. As fraldas das montanhas indicam a ascenção aos céus, mas o topo jaz acima, e eu cá abaixo, vejo e venero o véu. Este é o meu céu, este é meu chão. Este é o inferno de minha devoção. Muçulmano ou judeu, ou budista ou cristão. Nada disso vale. Eu sou o homem, e afasto prescrição. Este é meu mal, meu bem, meu pão - sem perdão. Eu sou o homem, a nuvem, o trem. Eu passo e fico. Eu fico e vou. Algures me encontro, alhures estou. Por isto eu primo, por isto apenas: a vida. Benquista ou malquista, esta, e não outra, esta é minha vida. O jardim verdejante em que sento e piso, do qual olho o mundo, é resquício do edênico, e resquício de mim. Eu aspiro e suspiro estar onde estou. Eu mudo, eu fico, eu vou.
Hidden Meaning
What is it that keeps you from biting
And with you mighty sword smiting
All the dread and woes of our world?
Tell me, my dear
Answer if you can
I have this fear
I am a man.
And with you mighty sword smiting
All the dread and woes of our world?
Tell me, my dear
Answer if you can
I have this fear
I am a man.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Dor
Se é que tu sabes,
Por que não me dizes?
Somos duas aves
Perdizes
Perdidas
Na vida
Qual vida?
Dor
Que indaga
E consome
Pervaga
E carcome
O homem
Qual homem?
Se a criança brinca tanto
Pra poder amar
Quando adulta perde o encanto
Vê o navio a naufragar
Qual nau?
Qual mar...?
Por que não me dizes?
Somos duas aves
Perdizes
Perdidas
Na vida
Qual vida?
Dor
Que indaga
E consome
Pervaga
E carcome
O homem
Qual homem?
Se a criança brinca tanto
Pra poder amar
Quando adulta perde o encanto
Vê o navio a naufragar
Qual nau?
Qual mar...?
terça-feira, 2 de junho de 2009
Zahrada (O Jardim, 1995)
Este incrível filme eslovaco, de Martin Sulík, tem um sabor todo próprio. Afasta-se tanto dos parâmetros holywoodianos, que merece ser reassistido. E eu me empreitei a vê-lo uma segunda vez, e não perdi absolutamente nada. Ele é dotado de uma poesia e uma linguagem raramente encontradas nos cinemas (não é à toa que o apelo de marketing deve ser baixo, e, portanto, não passa nas grandes salas).
E é claro que eu devo fazer menção a um filme que passou no Cinemark (representativo dos filmes de grande cachê), o Rede de Mentiras (Ridley Scott, 2008). Com todo respeito, Leonardo di Caprio, mas você se meteu desta vez num monturo mal-cheiroso! Uma produção estadounidense que propaga vilmente as mentirinhas do Uncle Sam para melhor dominar o mundo e as mentes fracas. Dá-me nojo e ânsia de vômito perceber que a rede de mentiras é o título mais acurado para esse esterco fílmico.
O interessante dessas produções pouco conhecidas é o fator surpresa, a genialidade. Este filme não é a usual barra vitamínica, provida dos valores diários de ação, suspense e sexo, super-energética, ou sei-lá-o-quê. Não é um Red Bull, apesar de dar asas à interpretação, à imaginação, à poetificação. Esses enlatados que tanto sucesso fazem, com sua boa dose de dentes branquíssimos, corpos delgados e malhados, plots porcos e ininspirados, merecem, todos, a velha lata de lixo. Ou a porta, que é serventia da casa aos imbuídos de um mínimo de razão e autocrítica com o que fazem da vida.
Olha, antes um filme que levante perguntas e desarme o espectador, que um arcabouço de certezas absurdas.
Vem cá, o que há com este mundo? Este mundo globalizado em matéria de ignorância e pedantismo? Quantas ferramentas não inventarão os títeres globo-governamentais para massificar os gostos, homogeneizar os hábitos, dar a mesma cara à humanidade? Anti-tabagismo, terrorismo (criado por aqueles que mais se beneficiam do caos perpetrado), novos dogmas, todas essas imposições draconianas vêm sob o mesmo rótulo: 1984, George Orwell. Novilíngua. Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley. Se já leu, está na hora de reler. Se não, meu caro, você não faz idéia do cabresto que te põem na cabeça todos os dias que sai de casa para o trabalho, para a escola, para onde quer que seja.
Pfah. Sabe o que estou lendo? Isto. Dói? Dói. Saber o quanto ignoro do que se passa neste exato momento a pessoas mais infelizes do que eu, submetidas à ditadura norte-americana. Mas eu não vou enterrar minha cabeça num buraco de ilusões apetitosas, deixando minhas ancas pra fora à vontade alheia. Recuso veementemente.
I say: No. Thank you.
E é claro que eu devo fazer menção a um filme que passou no Cinemark (representativo dos filmes de grande cachê), o Rede de Mentiras (Ridley Scott, 2008). Com todo respeito, Leonardo di Caprio, mas você se meteu desta vez num monturo mal-cheiroso! Uma produção estadounidense que propaga vilmente as mentirinhas do Uncle Sam para melhor dominar o mundo e as mentes fracas. Dá-me nojo e ânsia de vômito perceber que a rede de mentiras é o título mais acurado para esse esterco fílmico.
O interessante dessas produções pouco conhecidas é o fator surpresa, a genialidade. Este filme não é a usual barra vitamínica, provida dos valores diários de ação, suspense e sexo, super-energética, ou sei-lá-o-quê. Não é um Red Bull, apesar de dar asas à interpretação, à imaginação, à poetificação. Esses enlatados que tanto sucesso fazem, com sua boa dose de dentes branquíssimos, corpos delgados e malhados, plots porcos e ininspirados, merecem, todos, a velha lata de lixo. Ou a porta, que é serventia da casa aos imbuídos de um mínimo de razão e autocrítica com o que fazem da vida.
Olha, antes um filme que levante perguntas e desarme o espectador, que um arcabouço de certezas absurdas.
Vem cá, o que há com este mundo? Este mundo globalizado em matéria de ignorância e pedantismo? Quantas ferramentas não inventarão os títeres globo-governamentais para massificar os gostos, homogeneizar os hábitos, dar a mesma cara à humanidade? Anti-tabagismo, terrorismo (criado por aqueles que mais se beneficiam do caos perpetrado), novos dogmas, todas essas imposições draconianas vêm sob o mesmo rótulo: 1984, George Orwell. Novilíngua. Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley. Se já leu, está na hora de reler. Se não, meu caro, você não faz idéia do cabresto que te põem na cabeça todos os dias que sai de casa para o trabalho, para a escola, para onde quer que seja.
Pfah. Sabe o que estou lendo? Isto. Dói? Dói. Saber o quanto ignoro do que se passa neste exato momento a pessoas mais infelizes do que eu, submetidas à ditadura norte-americana. Mas eu não vou enterrar minha cabeça num buraco de ilusões apetitosas, deixando minhas ancas pra fora à vontade alheia. Recuso veementemente.
I say: No. Thank you.
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