terça-feira, 7 de julho de 2009

Jean Charles

Lágrimas copiosas escorreram por minha face. Gota após gota, numa cascata purificadora. Eu havia visto minha amiga chorar comigo, por causa de minha indecisão procrastinadora, aquele eterno estar sobre o muro entre o fazer e o não-fazer. Pois que eu não sabia o que dizer, o que falar. Só sabia o que sentia. E isso já me é o bastante, ou me foi. Porque se não penso, me dou ao ar de sentir, de me mover da costumeira posição sáxea da impenetrabilidade.

Eu chorei e percebi que também sou humano. Que não desejo mal a ninguém, nem a mim mesmo. Se puder agir nessa base para desmistificar a mim mesmo, que maravilhoso! Que maravilhoso poder um dia abrir os olhos ao som de Louis Armstrong ressoando em meu imo, aquela voz do nascer do sol, impactante, para não dizer mais. Que onírico poder por um segundo deixar de pensar em minha corporealidade e me focar no imo, no cimo, e daí atuar em prol de meus interesses.

Porque senão quem eu seria, se não fosse um sonhador. Eu vivo na caverna, mas opto por um dia poder sair desta realidade escabrosa que me anoitece, e vergar-me sob a força totipotente do sol. O sol que me alumia as entranhas nas piores circunstâncias. O sol que me energiza a ponto de tocar, e sentir meu mal feito, meu desgosto com a velha atitude de adiar e prolongar meu sofrimento.

Você vê, desde que me descobri, só quero uma coisa: deixar essa casca insensibilizada de lado, e me frutificar no meu potencial. Qualquer que seja! Desde que eu deixe de lado os perniciosos hábitos, a leviandade, a superficialidade. Estou cansado de ser isto ou aquilo. Pois que tal se eu fosse nem isso nem nada, mas que fosse uma bola luminosa deambulante, a brilhar meu próprio caminho!

Que fantasia mais engraçada. Então eu me tornaria quem almejo ser: verdadeiro comigo mesmo, nada mais, nada mais. Por mais que doa, porque antes doer a mim, que doer aos meus próximos, meus amigos, meus queridos, meus alicerces na vida. Aquela amiga que escuta a permuta de palavras e retribui com candidez e profundidade. Aquele amigo que nos iça a corda ao acharmo-nos no fosso da depreciação. Não é isto o que incendeia minha vida, numa flâmula insignificante a olhos alheios, embora tão representativa à minha busca incessável?

E aqueles olhos que me viram por trás do olhar! Menina, que olhos perscrutadores! Quem dera eu fosse o receptáculo ideal dessa rutilância das portas da alma! Lembrou-me o mar, a liberdade, a dificuldade dos meus dias em meio à selva e à chuva, há poucos meses - que mais parecem outra vida.

Não que eu seja infeliz. Pelo contrário. São esses pequenos milagres que me fazem enveredar adentro. É lá que se encontra meu santuário e minha salvação.
É lá minha paz na guerra travada diariamente.

Obrigado. Isto eu devo à vida. Se meus olhos faíscam, é justamente pelos gigantes que amuraram minha subida.

É por todos os irmãos incógnitos, que eu vejo e almejo ser estranho à normalidade.

Obrigado mais uma vez, meus confrades humanos.

Que dádiva.

3 comentários:

Camila disse...

e eu estava ao seu lado quando estes pensamentos estavam á caminho!
(vendo o filme \o/)

Renato disse...

Fê eu imagino que a depressão tome muitas pessoas em um amplo e negro abraço quando elas vão muito fundo nos mistérios do âmago. São muitos segredos! Me desculpe se aponto o foco do comentário para você, individuo, mas, no âmbito dessa discussão, acredito que você seja privilegiado e, sob a minha ótica, um baita cara incrível.

Fernando disse...

Puxa, Rê, aquele foi um estágio da minha vida repleto de atribulações. O que me levou a escrever foi uma amiga ter chorado por minha causa, e isso me deixou bastante magoado.

Mas hoje eu vejo que o fato d'ela ter chorado sem esconder a causa de seu desapontamento (= eu), algo que me deixou muito triste, hoje me ajuda - e muito - a tomar decisões difíceis.

Não quero ver mais ninguém em prantos comigo por causa de minha inércia, inação, indecisão. Preciso superar esse pressuposto libriano - do equilíbrio, da harmonia, da balança. É sempre um desafio.