Eu não tenho a ambição de ser porta-voz de ninguém. Mas já vi e ouvi o suficiente pra me convencer de certas coisas, determinadas práticas, que tornam o policial em justiceiro, e o justiceiro em assassino. Isso eu abomino. O colarinho branco sempre se safa, o ladrão de galinhas sempre se fode. Os políticos corruptos se unem pra engordar a gorjeta e todo dia eu vejo sujeito estirado na sarjeta. Eu pensei: uma vez ali, o difícil é sair - mas nossos governantes não estão nem aí. E quem os elegeu, tampouco. Nós. Cada um confere o próprio nariz, constata se este se mantém arrebitado, no lugar corriqueiro, e facilmente se esquece que a Matriz permanece a mesma pra todos - e que este, e somente este, é o nosso plano Real de existência, ou desistência, como o queira chamar.
*
O PM me parou
Um cuspe voou
Da boca dele no meu rosto
Um puta desgosto
Acontece, pensei
Acontece sem querer
Mas ninguém paga nego
Pra gritar e berrar
Sem poder me defender
Isso é humilhação
Me empurrou na viatura
Revistou, insultou
Perguntou:
"Ê, neguinho safado,
Donde veio esse Rolex roubado?"
E daí pro camburão
Injusta detenção
Aquilo foi é plantado
Mas como eu vou provar
Não tenho advogado
Meu rosto detonado
De tanto esmurrar
Me meterram numa cela
Superlotada
Me desonraram e disseram:
Procedimento Padrão
Vou me matar enforcado
E morrer como ladrão
Um guerreiro enganado
Sufocado na prisão
Não consigo nem me olhar no espelho
Já não me serve conselho nenhum
Eu queria é viver
Inserido no meu meio
Minha família, meus trutas
Meu trampo, meu esteio
Falou, sangue bom
Não quero virar carne
Nesse mundo de cão
Um cara inocente
Transformado delinquente
É um cara decente
A menos
Na rala sociedade
É um mundo doente
A dura realidade
A morte do inocente
Germinada na maldade
O pobre não é gente
É burro de carga
Soltou toda a merda nele
Agora puxa a descarga.
Façavor.
O PM me parou
Um cuspe voou
Da boca dele no meu rosto
Um puta desgosto
Acontece, pensei
Acontece sem querer
Mas ninguém paga nego
Pra gritar e berrar
Sem poder me defender
Isso é humilhação
Me empurrou na viatura
Revistou, insultou
Perguntou:
"Ê, neguinho safado,
Donde veio esse Rolex roubado?"
E daí pro camburão
Injusta detenção
Aquilo foi é plantado
Mas como eu vou provar
Não tenho advogado
Meu rosto detonado
De tanto esmurrar
Me meterram numa cela
Superlotada
Me desonraram e disseram:
Procedimento Padrão
Vou me matar enforcado
E morrer como ladrão
Um guerreiro enganado
Sufocado na prisão
Não consigo nem me olhar no espelho
Já não me serve conselho nenhum
Eu queria é viver
Inserido no meu meio
Minha família, meus trutas
Meu trampo, meu esteio
Falou, sangue bom
Não quero virar carne
Nesse mundo de cão
Um cara inocente
Transformado delinquente
É um cara decente
A menos
Na rala sociedade
É um mundo doente
A dura realidade
A morte do inocente
Germinada na maldade
O pobre não é gente
É burro de carga
Soltou toda a merda nele
Agora puxa a descarga.
Façavor.
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