Sobre os ombros, escombros
Assombram o meu ser
Caídas ruínas
Comigo vêm ter
Mi'a mente desfoca
Em pálidas lembranças
Do impávido índio
Dentro da oca
O tembetá no lábio
Um botoque também
O autóctone sábio
Agora no além
Disse-me com ternura:
Somente a palavra perdura
No cinza da cidade
Na densa selva escura
Mi'a gente ensinava
O Verbo é como lava
Imbui-se do Fogo
Dissolve a rocha fria
O solo ela cava
Infusa de energia
Desperta o pavor
Em ígnea rebeldia
Um feitiço a voltar-se
Contra o próprio homem
Em vivo rebuliço
Seu calor tudo consome
Memórias e histórias
Livros e divãs
Tomados pelas chamas
Sob o espesso picumã
Palavras proferidas
Enterradas
Soterradas
O silêncio
Só silêncio
E o lenço metido
Na boca amordaçada
O estalido da pólvora
Outr'alma penada
Palavra minha:
O fim do meu povo
Passou ante os meus olhos
Nossa linda língua
Acaba-se comigo
Sofremos à míngua
Sem branco amigo
Nossa rubra pele
Cor de telha
Em muito se assemelha
À terra fértil
Hoje combalida
Sob o poder do projétil
Ó, Brancos!
Fizeram de nós
Saltimbancos
Velhos e mancos
Um povo sem voz
Mas as palavras
Como lava
Hão de incendiar
Vossa gente ignóbil
Que despeitou o Mar!
Assombram o meu ser
Caídas ruínas
Comigo vêm ter
Mi'a mente desfoca
Em pálidas lembranças
Do impávido índio
Dentro da oca
O tembetá no lábio
Um botoque também
O autóctone sábio
Agora no além
Disse-me com ternura:
Somente a palavra perdura
No cinza da cidade
Na densa selva escura
Mi'a gente ensinava
O Verbo é como lava
Imbui-se do Fogo
Dissolve a rocha fria
O solo ela cava
Infusa de energia
Desperta o pavor
Em ígnea rebeldia
Um feitiço a voltar-se
Contra o próprio homem
Em vivo rebuliço
Seu calor tudo consome
Memórias e histórias
Livros e divãs
Tomados pelas chamas
Sob o espesso picumã
Palavras proferidas
Enterradas
Soterradas
O silêncio
Só silêncio
E o lenço metido
Na boca amordaçada
O estalido da pólvora
Outr'alma penada
Palavra minha:
O fim do meu povo
Passou ante os meus olhos
Nossa linda língua
Acaba-se comigo
Sofremos à míngua
Sem branco amigo
Nossa rubra pele
Cor de telha
Em muito se assemelha
À terra fértil
Hoje combalida
Sob o poder do projétil
Ó, Brancos!
Fizeram de nós
Saltimbancos
Velhos e mancos
Um povo sem voz
Mas as palavras
Como lava
Hão de incendiar
Vossa gente ignóbil
Que despeitou o Mar!
12 comentários:
Triste realidade. Bela poesia.
Édison, você é certamente o mais digno merecedor do prêmio "leitor mais assíduo" deste breve e pouco ambicioso blogue. Muito obrigado, meu caro!
Ser indígena é ser de outro mundo neste planeta ultracivilizado. Ultrajado, isto sim.
Suas rimas, seus temas e vocabulários são ímpares.
De verdade.
Você consegue transmitir exatamente o que quer dizer e o que se passa pela sua cabeça (imagino eu).
Sua poesia quase não precisa ser lida, ela praticamente se lê sozinha, conversa conosco.
Os índios vivem alheios ao mundo, estão em outro tempo.
Sua história lhes foi arrancada, sem misericórdia.
Se hoje eles apedrejam carros e bloqueiam estradas, ontem suas casas eram incendiadas, suas tribos despedaçadas e suas memórias e lembranças enterradas dentre as letras dos livros de história.
*vocabulário
Puxa, André, eu sou grato! Primeira vez que escuto algo parecido!!
Fernando,
Desse jeito você vai parar na presidência da FUNAI...hahaha !!!
Brincadeira...Perfeito como sempre, bonito e melodioso como nunca...
Abraços...
Hahaha... gostei do bom-humor, Wlamir!! :D
Sob este calor de 35°C que faz neste exato momento na cidade de São Paulo, o humor é com certeza o melhor amigo! hahaha
Obrigado!
"Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante..." Um Índio - Caetano Veloso
Me lembrei dessa música na hora Fernando, gostando muito dos seus interesses e afins.
Continue assim, vendo coisas que à muitos escapam!
Parabéns!
É verdade, ser indigena , trazer sua herança no sangue como eu, é ser de outro mundo...
Pessoas riem do nome..dos traços...dos costumes que trazmos no sangue....
Parabéns pela escrita!
até a proxima postagem...
Puxa, Joakim, o que dizer senão que eu me sinto honrado ao poder evocar num leitor como você uma grande canção brasileira, por ninguém menos que o grande Caetano Veloso! Lisonjeado, isso sim!
Exato, Tu, eu sempre adorei estudar a questão indígena, como um leigo mesmo, e sempre me espantei pelo fato deles serem até hoje ignorados, destratados e desumanizados.
Eu gostaria que palavras curassem feridas... e quem sabe elas não curem? Fica a questão.
Fernando, eu lhe recomendo a leitura de Poema Ecológico...belíssimo!!
É uma carta do Chefe Seattle em 1854 ao Grande Chefe Branco de Washington.
A resposta do Chefe Seattle à proposta de compra de uma grande extensão de terras índias, começa assim:
Como se pode comprar ou vender o firmamento, ou ainda o calor da terra? Se não somos donos da frescura do ar nem do fulgor das águas...e por aí vai...
É impactante e reveladora a leitura.
Carinhoso abraço.
Ah, eu já li! Mas creio ser hora de relê-lo!
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