Praça da Sé
Aquele moleque
Tava é de pileque
E a senhorinha ali
Ao lado, abanando
Seu bonito leque
Maltrapilha, malvestido
Morador de rua
E a rica dama
Em seu vestido
Cheia de drama
Vendo aquela cena crua
Ô, menino!
Você vive aqui na rua?
Vivo, sim, mi'a senhora
Não tem medo da patrulha?
Todo dia, toda hora
E te dão muita surra?
Bate tanto até que chora.
Pra viver aqui na rua
É preciso ter coragem
A polícia come o rabo
A mais pura pilantragem
Tudo ordens do Estado
Pra conter a "malandragem"
Ô, menino!
E você não passa frio?
Passo, sim, mi'a senhora
Não tem pai nem mãe nem tio?
Aqui no Rio... só meus irmão
Eles moram com você?
Não, tão na prisão
Presídio, detenção
Xadrez, podridão
Reduto da malária
Pátria sem perdão
Cólera, estupro
Só devassidão
Nessa terra sem lei
Quem tem olho é rei
Bem eu sei
É muita humilhação
Respeitar os coroas
No pedaço, feito palhaço
Um bando de safados
Todos os pecados
Tão lá dentro
Na cela fedorenta
Um cheiro pestilento
Que ninguém aguenta
O mais cruel momento
É quando a gente chega
Depois se acostuma
A cela é nossa vida
E a vida é só uma
Pra não perder a honra
É melhor entrar na "turma"
Só ela te protege
Mas em rebelião
Ninguém tá a salvo, não
Se alguém mexer contigo
Saca logo o teu facão
Matar pra ficar vivo
Só em último caso
Perigoso até demais
É vingança sem atraso
Vai embora a tua Paz
Tua morte vale um maço
E o Satã Satanás
É um homem de prazo
Sujeito ruim na cadeia
Claro que tá cheio
Cada dia é nossa
Última Ceia
Com o Judas lá no meio
Toda morte é morte alheia
Não tem dó nem regateio
Ali nego nenhum
Vai tremelicar
Pra manter a própria vida
E o próprio bem-estar
Me acabaram de soltar
Fui em cana por roubar
Fico agora mendigando
Pra poder me alimentar
Não quero tanta piedade
Só quero um dia ter um lar
Meu barraco, minha casa
Um lugar onde morar
Enquanto isso vou pedindo
Uma esmola, por favor
Mi'a cara esfomeada
Esconde um sonho e um amor
Jogar quem sabe uma pelada
Sob as Mãos do Redentor.
Aquele moleque
Tava é de pileque
E a senhorinha ali
Ao lado, abanando
Seu bonito leque
Maltrapilha, malvestido
Morador de rua
E a rica dama
Em seu vestido
Cheia de drama
Vendo aquela cena crua
Ô, menino!
Você vive aqui na rua?
Vivo, sim, mi'a senhora
Não tem medo da patrulha?
Todo dia, toda hora
E te dão muita surra?
Bate tanto até que chora.
Pra viver aqui na rua
É preciso ter coragem
A polícia come o rabo
A mais pura pilantragem
Tudo ordens do Estado
Pra conter a "malandragem"
Ô, menino!
E você não passa frio?
Passo, sim, mi'a senhora
Não tem pai nem mãe nem tio?
Aqui no Rio... só meus irmão
Eles moram com você?
Não, tão na prisão
Presídio, detenção
Xadrez, podridão
Reduto da malária
Pátria sem perdão
Cólera, estupro
Só devassidão
Nessa terra sem lei
Quem tem olho é rei
Bem eu sei
É muita humilhação
Respeitar os coroas
No pedaço, feito palhaço
Um bando de safados
Todos os pecados
Tão lá dentro
Na cela fedorenta
Um cheiro pestilento
Que ninguém aguenta
O mais cruel momento
É quando a gente chega
Depois se acostuma
A cela é nossa vida
E a vida é só uma
Pra não perder a honra
É melhor entrar na "turma"
Só ela te protege
Mas em rebelião
Ninguém tá a salvo, não
Se alguém mexer contigo
Saca logo o teu facão
Matar pra ficar vivo
Só em último caso
Perigoso até demais
É vingança sem atraso
Vai embora a tua Paz
Tua morte vale um maço
E o Satã Satanás
É um homem de prazo
Sujeito ruim na cadeia
Claro que tá cheio
Cada dia é nossa
Última Ceia
Com o Judas lá no meio
Toda morte é morte alheia
Não tem dó nem regateio
Ali nego nenhum
Vai tremelicar
Pra manter a própria vida
E o próprio bem-estar
Me acabaram de soltar
Fui em cana por roubar
Fico agora mendigando
Pra poder me alimentar
Não quero tanta piedade
Só quero um dia ter um lar
Meu barraco, minha casa
Um lugar onde morar
Enquanto isso vou pedindo
Uma esmola, por favor
Mi'a cara esfomeada
Esconde um sonho e um amor
Jogar quem sabe uma pelada
Sob as Mãos do Redentor.
13 comentários:
Alguns dizem que essa esmola será uma das causas de sua futura prisão. Eu não sei...
Concordo, Édison. Eu mesmo não dou esmola. Gosto dos seus comentários porque você é sempre atento ao conteúdo. Obrigado!
Mas presto atenção na forma também. Parabéns pelo seu trabalho!
Forte esta realidade!
Jóia o blog!!
Grande Abraço
* Voltarei! tô seguindo...
Obrigado, Édison, fico feliz :D
Opa, Guto, valeu pelo apoio! Volte sempre.
Essa realidade é dura mesmo.
Fernando,
Admiro a maneira fácil com que escreve os seus textos e expôe, muitas vezes as mazelas da vida...
Isso é talento.
Um abraço...
Pô, Wlamir, ninguém melhor do que você pra dizer o que é talento. Puxa, eu me sinto honrado.
As mazelas da vida, como disse o Wlamir, atraem muito... Uma vez eu também escrevi sobre isso, nunca publiquei, é algo chocante, que atrai muito nossos olhos e inspirações poéticas! Belíssima texto! Muito digno, que retrata a vida de muitos jóvens de nossas ruins! Muito bem feito mesmo! Lerei novamente!
Fico agora mendigando
Pra moder me alimentar
Acho que vc quis dizer "poder", não?
Só avisando, se for, arruma lá ;)
Valeu, Pascho! Sim, era "poder", hehe... erros ortográficos são difíceis de corrigir, sempre agradeço quando alguém os localiza!! Valeu, fico alegre por você tê-lo apreciado!
Nossa, incrível, como sempre.E o tema, doloroso, colocado de maneira tão honesta, chocante, através de um diálogo.E sempre cuidadoso nas rimas.Parabéns!
Obrigado, Nina, é sempre bom ter você como leitora do blogue.
As rimas me vêm durante a composição. Para mim é quase inimaginável conseguir compor como grandes nomes da nossa literatura, sem servir-me de rimas. Elas são como os tijolinhos que se ajuntam pra formar o muro.
Quando eu conseguir me separar delas por um momento que seja, talvez até eu me surpreenda com o resultado inusitado!!
Abraço!
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