quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Em Meditação


O frugal jejum do monge
Nos primores da manhã
Penumbra negra esconde
Seu roto tecido de lã

O mantra balbucia
Em genuflexão
Crer sempre no dia
Que não se vai em vão

O soquete de luz
Pendendo no teto
Sua mente traduz
E o deixa quieto

Sentir-se completo
Em seus fragmentos
O Todo o abraça
Tão rápido e lento

A mais dura lição
Ver o sol que perdura
No trêmulo chão
O fel da amargura
O mel da canção

Olhar com candura
A tênue existência
Efêmera, paradoxal
Viver cada hora o Tao

Ver a ordem no Caos
Do cotidiano insano
Os bons e os maus
O valor humano

A prece erguida
A buda e jesus
Desmedida e muda
Um clarão de luz

Conhecer-se dói tanto
E é tão fugaz
No riso e no pranto
Reina a paz

De quem faz e apraz
Sua vontade sincera
E nela se esmera
Co'a força tenaz

Em meditação.

***

Nota: Buda e Jesus com as consoantes iniciais intencionalmente minúsculas neste poema, por razões de um espiritualismo desse monge (que não sou eu...vale dizer) que não admite fronteiras ou barreiras entre religiões, nem deificações extremadas e monoteístas de seus mais afamados expoentes.

2 comentários:

wrodcarica disse...

Bravo !!!
Belíssimo texto Fernando, que nos convida realmente a meditação...:)

Fernando disse...

Obrigado, Wlamir. A intenção era estender um convite, mesmo, a essa prática ascética e purificadora.