Nessa conversa de Diálogos com Leucó, Pavese incute sutilezas raramente encontradas na literatura de massa. Litierses e Hércules encabeçam um diálogo de provocar arrepios. Do início ao fim é um crescendo de vitupérios e violência imparável. Litierses, mau anfitrião, quer o sacrifício do recém-chegado hóspede, ninguém menos que Héracles. Ignora, é óbvio, sua natureza de semideus, sua pujança inigualável. Mostra-se às claras a pretensão e presunção desairosas do campônio ignaro e soberbo, perante a humildade ardilosa do mítico Hércules. A luta ceifará ao molde da foice a jugular do mais fraco. A hospitalidade helênica, tão cara na tradição odisseica*, ao ser desrespeitada, provará de dissabores ao infrator. Aspirando a tudo, reduz-se ao nada...
*vide recepção calorosa de Telêmaco à deusa Atenas, disfarçada de Mentes, filho de Anquíalo, no 1º canto da Odisséia homérica)
"Hércules/Héracles e a Hidra", Antonio Pollaiuolo
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