Keely Kernan
O sismo abriu
Centenas de metros
Engolindo fetos
No pavimento frio
Duzentas mil pessoas
Troando tristes loas
Pairando sobr'a terra...
Não, não foi guerra
Foi o tremor da dor
Ruindo a cidade
Quantas lágrimas rolaram
Pós a vil calamidade...
Parentes e amigos
Perdidos, engolidos
Pelo solo
Descrentes e feridos
Choramos de terror
Sem consolo
Em prantos tentaremos
Reconstruir a nossa vida
E fechar a cicatriz
Dess'imensa ferida
O sismo abriu
Centenas de metros
Engolindo fetos
No pavimento frio
Duzentas mil pessoas
Troando tristes loas
Pairando sobr'a terra...
Não, não foi guerra
Foi o tremor da dor
Ruindo a cidade
Quantas lágrimas rolaram
Pós a vil calamidade...
Parentes e amigos
Perdidos, engolidos
Pelo solo
Descrentes e feridos
Choramos de terror
Sem consolo
Em prantos tentaremos
Reconstruir a nossa vida
E fechar a cicatriz
Dess'imensa ferida
Quem quis isso
Quem isso desejou
Não pode ser feliz
Não pode ser avô
Pois meus netos
Perdi-os todos
Chafurdo no lodo
Sem vivo afeto
Treme-me o corpo
Semimorto
Irrequieto
Minha filha lastima
A perda do noivo
Não temos goivo...
Somente esperança
Nossos finos braços
Perderam os abraços
Mais tenros
Foram-se noras
Foram-se os genros
Agora nos resta
Erigir de novo
Mas a faina molesta
E eu me comovo
Por ter sobrado vivo
Nesta urbe soçobrada
Nos escombros meus queridos
Encontraram sua morada
Sob os mis destroços
Entrevê-se uma caverna:
Um prensado pescoço
Um pedaço de perna
Soterrados
Desalmados
Sem o túmulo
Sagrado
O corpo estilhaçado
Garroteado, esquartejado
Corpo e corpo
Lado a lado
Famigerado País macabro
Libertado... dominado
Independente... amordaçado
Quem sofre é a gente
Não somos cabeça de gado
Um povo subjugado
Pelo poderio militar
Deem-nos arado
E um pouco de ar
Precisamos respirar
Desde qu'usurparam
A nossa pátria,
O nosso lar
Médicos e enfermeiros
Corajosos guerreiros
E pessoas de fé
São vocês os padroeiros
Da nossa Santa Sé
Com seus pés ligeiros
E o sorriso do pajé
Estampado no rosto
São, de quem exerce
Seu trabalho com gosto
Numa viva ação de prece
Pois a mais sacra reza
É a mão estendida
Num teso aperto
De sóbria firmeza
O maior gesto amigo
Nossa gente é forte
Peitamos a Morte
E a sombra do Diacho
Enfrentamos peito aberto
A nossa própria Sorte
E no bravo viver eu acho
Toda a nossa força
A fugir do laço
D'apertura da forca
Eia povo varonil!
Assimila o seu vigor
Da correnteza do rio
E encontra o seu amor
Na diária dureza da vida
Essa vida sol a sol
Duramente combatida.
***
Eis minha modesta menagem a esse povo.
15 comentários:
Duramente escrito e lavrado, isso sim!
Cara, isso é uma obra de arte.
Sinceridade e solidariedade em forma de poesia.
MUITO bom, mesmo.
Agradeço, André!
Obrigado, irmão!
Faça esse experimento: leia sobre uma catástrofe, comova-se com ela, e tente ordenar no papel seus pensamentos, suas emoções e suas angústias sobre o assunto.
É mais ou menos assim que se dá o trabalho de escrever (no meu caso, já que é nisso que eu me aprimoro) sobre um desastre.
Mais uma vez, obrigado!
:) Uma lindíssima homenagem. Palavras de poeta e de afecto.
Ana Lúcias
arco-Írisreloaded
Obrigado, Ana Lúcia. Serei sempre grato pelas tuas passagens cá pelo blog.
Oi Fernando!
Parabéns por este belo espaço poético!Muito obrigado por sua visita e pelo seu comentário!
Abração e sucesso!
Eu que sou grato, Glen! Passarei no teu sítio sempre.
Fernando,
Você sintetizou de forma poética todo sofrimento que o povo haitiano vive...Sensacional !!!
Abraços...
Nossa Fernando!
é incrível do jeito que vc esculpi tudo o que vemos e sentimos..
Ordena frases, o texto fica profundo sem ficar pesado!
Parabéns!
Muito bom, Fernando!
Valeu pela dica, a charge está devidamente corrigida.
Abraço,
Bruno.
Poxa, obrigado, Wlamir! Eu fiquei bastante abalado com o acontecido e tentei fazer disso um ponto de partida.
Tu, você faz um elogio e tanto! Eu fico é muito feliz que não tenha ficado pesado, e mesmo assim transitido um pouco da dor haitiana.
Bruno, sou muito agradecido, estarei sempre passando pelo teu site. Obrigado, todos!
poxa, q bonito! q dom, hein
parabéns.
Valeu, Meg! Estava com saudade das suas visitas :D Gostei.
Beleza, Fernando.
Para o universo em desencanto
A Poesia é o acalanto.
Biratan
Sim, Biratan, acredito igualmente nesse poder mágico da poesia. Bem colocado. Sinto-me honrado com tuas visitas, obrigado.
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