Meus entreabertos olhos
Entreolhavam você
Eu entretido em olhá-la
Como quem primeiro vê
E não crê, não pode crer
E suspende o pensamento
Num suspense muito lento
Lentamente a escorrer
Como lágrimas rolando
Dois olhos semi-cerrados
Pingo a pingo gotejando
O timbre teso, calado.
Minha garganta entupida
As narinas ressequidas
Num grito clamando a vida
Perdida, querida, a vida
Quem a levou de repente?
As veias pulsando ainda
Tornado triste o contente
Não quero ir, minha dinda
E vale minha vontade?
Minha íris rebrilhando?
Escuto Sheherazade
E tudo, tudo é tão brando
E tudo, tudo vibrando
Nada é nefando, terrível
O incrível é possível
E o fim vai começando
Ouço as canções de infância
Não há saudade nem ânsia
Apenas vãs cantilenas
Vãs e belas e serenas
Vãs, singelas e pequenas
Como humildes Madalenas
Perfumando Os pés alheios
Sem ofensas, sem rodeio
Irá embora quem veio
Cultivado seu centeio.
Qual tristeza haverá nisso?
E qual maior compromisso...
Nasceu, semeou, brindou
Das alegrias provou
Sem asas alçou seu voo
E voou, voou, voou...
Entreolhavam você
Eu entretido em olhá-la
Como quem primeiro vê
E não crê, não pode crer
E suspende o pensamento
Num suspense muito lento
Lentamente a escorrer
Como lágrimas rolando
Dois olhos semi-cerrados
Pingo a pingo gotejando
O timbre teso, calado.
Minha garganta entupida
As narinas ressequidas
Num grito clamando a vida
Perdida, querida, a vida
Quem a levou de repente?
As veias pulsando ainda
Tornado triste o contente
Não quero ir, minha dinda
E vale minha vontade?
Minha íris rebrilhando?
Escuto Sheherazade
E tudo, tudo é tão brando
E tudo, tudo vibrando
Nada é nefando, terrível
O incrível é possível
E o fim vai começando
Ouço as canções de infância
Não há saudade nem ânsia
Apenas vãs cantilenas
Vãs e belas e serenas
Vãs, singelas e pequenas
Como humildes Madalenas
Perfumando Os pés alheios
Sem ofensas, sem rodeio
Irá embora quem veio
Cultivado seu centeio.
Qual tristeza haverá nisso?
E qual maior compromisso...
Nasceu, semeou, brindou
Das alegrias provou
Sem asas alçou seu voo
E voou, voou, voou...
2 comentários:
Fe, não sabia que você escrevia. Estava especulando a vida alheia, pois é para isso que o orkut nasceu rs, encontrei o link deste excelente blog. Obviamente não li todos, mas os que li, me encantou. Espero ler muitos mais. E acho que você deveria divulgar mais este espaço. Não sei se apenas eu que não sabia, mas fica a dica.
Apenas um concero ortográfica na quinta "cobra" de baixo para cima, terceiro verso: "comçando", falta a vogal media-alta anterior não-arredondada rs
Parabéns novamente.
Abração
Valeu, Evandro!
Venho nutrindo este projeto há algum tempo. Ele tem especial importância para mim, já que me possibilita seguir uma linha poética com a qual sinto necessidade de contato.
E expressar isso num meio virtual pode mostrar-se iportante para outras pessoas também, o que é ótimo. Ler é incluir-se. Ler e compreender é mágico. Ler faz a vida valer a pena nas piores situações possíveis.
É quando você tem a chance de ver outros iguais a si, mesmo quando o mundo inteiro já parece te rejeitar, numa espécie de paranoia já criada pela própria sociedade caótica em que vivemos.
Ler não é uma válvula de escape, como muitos tendem a pensar. Ou escrever, uma crença em ilusões. Muito pelo contrário, os dois são atividades de compreensão de si mesmo enquanto indivíduo incompleto num mundo que, tido em conjunto, ainda é incompleto, e povoado por pessoas tão distintas entre si que por vezes se tornam irreconhecíveis.
A literatura, como nenhuma outra ferramenta, permite essa aproximação fabulosa. A literatura por si só é fabulosa, mesmo que não possuísse esse dom inato de conectar realidades - e mundos - tão longínquos e, à primeira vista, inacessíveis.
Tudo é possível na literatura. É um universo de possibilidades esperançosas, porque são possibilidades de mudança, transformação, e, ultimamente, transubstanciação. Milagres acontecem. Um livro pode mudar nossa perspectiva do mundo. Ou um poema. Ou um conto. É nesse viés que eu creio na literatura. É um instrumento de mutação de nós mesmos enquanto indivíduos, e não como sociedade. É um sonho possível.
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