terça-feira, 6 de julho de 2010

Tu me chamas

Quando tudo fica mudo
E se impõe o meu escudo
É macio como veludo
E pesado como o luto

Abro o peito já desnudo
Olhos cegos - surdo ouvido
Ensombrece tudo, tudo
É um fardo como o luto

Pelo e pele, todo hirsuto
O frio corpo eu cutuco
Estéril, como um eunuco
Tudo é sombra e tudo é luto

Quanto dura a sepultura
Esta tumba tão escura
O ressaibo da amargura
O eterno que perdura

Quanto custa um susto assim
Duplo meu falando a mim
Aonde eu fui donde eu vim
Morto o gênio de Aladim

Morta a lâmpada sincera
Ó Medusa, mia quimera
O destino que me espera
Na fissura da cratera

Olhos negros da pantera
Temerosos como a fera
Medo vindo de outra era
Tão eterno como as serras

Vales, colinas, montanhas
Estranhas à vida, estranhas
Abismos do breu - do Eu
O réu maior sob o céu

Então surge a tocha acesa
E muge a vaca indefesa
O clarão do lampião
Labareda sobre a mesa

Fogo humano do saber
O ardor aquece o ser
Ó fogueira alvissareira
Lança a luz nesta lareira

Lança a luz alumiada
Na mia erma e só morada
Ó fogueira alvissareira
Chama mais abençoada.

Nenhum comentário: