sexta-feira, 12 de junho de 2009

Prece Gnóstica

Se eu estivesse só no mundo, só veria tua imagem. Desnudo, mudo, em luto, tu serias a miragem. E das selvas resplendentes, e das rochas transluzentes, queimaria a sarça ardente, a rocha bruta, a água fria. Nem sempre se pode dormir, e ruir o mundo que o dia soeu erigir. Assim sou eu, ilhado, náufrago e anátema. As fraldas das montanhas indicam a ascenção aos céus, mas o topo jaz acima, e eu cá abaixo, vejo e venero o véu. Este é o meu céu, este é meu chão. Este é o inferno de minha devoção. Muçulmano ou judeu, ou budista ou cristão. Nada disso vale. Eu sou o homem, e afasto prescrição. Este é meu mal, meu bem, meu pão - sem perdão. Eu sou o homem, a nuvem, o trem. Eu passo e fico. Eu fico e vou. Algures me encontro, alhures estou. Por isto eu primo, por isto apenas: a vida. Benquista ou malquista, esta, e não outra, esta é minha vida. O jardim verdejante em que sento e piso, do qual olho o mundo, é resquício do edênico, e resquício de mim. Eu aspiro e suspiro estar onde estou. Eu mudo, eu fico, eu vou.

Nenhum comentário: