Exatos cinco dias antes do meu aniversário de vinte anos minha mãe me contou uma história estarrecedora. Porque quando a gente é criança e ouve - se é que ainda contam - histórias de ninar, parece que crescer é indolor. Ainda que haja a troca de dentes, arranhões nos braços e joelhos, quando não membros quebrados, amorecos não correspondidos, como acontece universalmente a todos, a parte dura da vida nossos pais deixam ao encargo do tempo. Cada coisa tem sua hora e seu lugar. Depois do que me contou, não duvido mais. Estávamos na cozinha, e, digamos, perdi um pouco do apetite.
Como eu sou o único receptor da história, e a história ocorreu há mais ou menos trinta anos, e prometi não contar a ninguém, ponho-me a escrever maquinalmente as impressões que a história me suscitou. É difícil arcar com a verdade quando de supetão nos é soprada no ouvido, sem nos dar tempo de bandear prum lado, cambalear pro outro. O cavalo galga alucinado, a sela não está firme, o cavaleiro trêbado pende as pernas sem sentir o mundo, e o chão... o enorme chão imundo está cada vez mais próximo, sua alma flutuante, o corpo insensível, a mente insensata.
São histórias macabras, da realidade cotidiana que esperamos não acontecer a nós, mas mesmo assim acontecem. Se aconteceu à minha mãe, oras, o mínimo que posso imaginar é essa terrível sensação de proximidade. Suspeita-se da humanidade quando ocorre algo semelhante. Ah, e como se suspeita. Porque o quê é um homem sem os outros, e quando os outros se põem a trai-lo dessa maneira nauseabunda... bem, o que restam senão dúvidas do que é ser humano, e senão há exceções à regra... e quão brutas e vis tais exceções são.
Do dia em que levamos o tapinha no bumbum do doutor até o dia em que levamos o tapinha nas costas de adeus, percorremos milhas e milhas, milhares de lugares, mil pessoas diferentes se imiscuem em nossas vidas - muitas delas preenchem esse nosso vazio de vir só ao mundo, ainda que às vezes acompanhados por irmão gêmeo, ou trigêmeos, ou qualquer múltiplo incrédulo que a fertilização agora permite. Ouvi dizer de uma mulher estadounidense que pariu oito de uma vez. Óctuplos, os oito tentáculos do polvo. É filho pra danar. Mas voltando à questão anterior: se há pessoas que nos preenchem maravilhosamente e as preenchemos de volta, com risadas e gracejos, abraços e beijos, lágrimas de alegria, concessões e perdões, há de fato aquelas opostas: as que nos esvaziam, ou que o tentam com uma pujança e uma má fé tais que soam inexplicáveis.
Fazem-nos sofrer admiravalmente. Parece que nasceram pra isso. E, se não estou enganado, não só parecem, mas é fato corroborado. Semear desgraças, desconfiança, alucinações de massa, misantropia. Há motivos de sobra para odiá-las, excluí-las. Mas pulemos a primeira parte, que é de todo inútil: o ódio. O ódio é, no pleno sentido da palavra, não-útil. Odiar convida outros atos piores a entrarem em cena: vingança, revanche, violência. E, com isso, uma avalanche de fatos ainda piores que aqueles que deram origem à toda nossa raiva. Uma bola de neve que termina por nos sufocar e soterrar, e da qual há pouca, senão nenhuma saída uma vez incitada a rolar.
Então nos concentremos por ora no segundo ponto: excluí-los de nossa vida. Oras, na minha cozinha há um cesto de lixo, no banheiro também. Até no sistema virtual do computador há uma lixeira reservada a arquivos inúteis ou corrompidos. Onde há sujeira, há um lugar para dela se desfazer. Viver em meio ao lixo faz mal. Imensamente mal. Quanto mais o lixo humano, decerto o mais fedido e não reaproveitável de todos os outros. Cocô de bicho vira adubo, alimento pra outros bichos com "estômago de abutre", e até energia, ouvi dizer. Por conta do gás metano que da bosta evola ou coisa parecida. Mas o cocô de gente não só tira, numa lufada só de vento malcheiroso, a concentração do indivíduo mais santo, como também germina toda a sorte de doenças fatais. Digo: fatais. Não é brincadeira.
Já me deparei com pessoas ruins de todas as etnias, de ambos os gêneros. Após anos de estudo e leitura sobre o tema, e participando de grupos eminentes de discussão, nos quais me foram apresentados os nomes dos principais psiquiatras e psicólogos, autores que se dispuseram a escrever livros e ministrar palestras sobre isso, transformando ao longo dos anos o polêmico tópico em ciência - verificável e arguível - conheci o nome da maldita maleita: psicopatia.
É claro que, mudando de escolas a vida toda por questões econômicas, e transitando por todas as camadas sociais no dia a dia, e cruzando e entrecruzando uma das maiores metrópoles do planeta, e a maior do Brasil, eu pude tomar nota desse fenômeno patológico, pessoalmente, usando-me de todo o conhecimento adquirido com tais autores. E descobri a nível pessoal, como já afirmavam esses autores, que psicopatia não tem nome, não tem cor, não tem religião, etnia, nem sexo, status social ou índice de riqueza ou pobreza.
Esses autores praticamente se punham a afirmar que a psicopatia era uma característica herdada nos genes, pois nenhum contexto explicava seu surgimento. E, o mais relevante, ela se manifestava desde a tenra infância. Eu amo crianças, sempre estive em contato com elas, já fui uma um dia, e posso dizer que toda criança, com suas naturais traquinagens e molecagens, encaram um dia a decisão que irá delinear sua vida posterior: mudar ou piorar. Não é, na maior parte dos casos, uma decisão tão chocante. Segue o rumo da vida, segue o aprendizado em seu curso, o desenvolvimento corpóreo, o ônus da responsabilidade de "crescer e ser alguém".
Mas vamos bater o martelo no prego e dizer que, quando criança, eu tinha uma série de problemas. Falam que toda criança tem problemas, mas os meus eram maiores. Eu estava envolvido em vários ciclos de violência concomitantes e a cobra parece perserguir o próprio rabo com a boca, porque até hoje é dificílimo afirmar o que desencadeava o quê, exatamente. Meu pai me dava séries de 10 ou 20 cintadas, se abrisse o bocão e descambasse a chorar antes do primeiro golpe, eram 20. Se fosse "macho", eram "só" 10. Lembro-me até hoje de uma vez em que me atingiu com a fivela. Ficou um roxão que eu até mostrava aos mais íntimos, num misto de espanto "por ter sobrevivido", e de audácia e orgulho do que era necessário para me conter. Minha mãe me espancava com havaianas. Até hoje não as gosto de usar, apesar de ter um par nos pés neste instante. Eu era o valentão do tipo que odiava a desigualdade. Não sei se sonhava em ser herói, mas desempenhava bem o papel de um Robin Hood moderno, macunaímico: cheio de contradições e detalhes mal explicados - elipses vergonhosas, e predicados forçosamente destacados do sujeito e pontuados com vírgulas, pontos-e-vírgulas, reticências duplas, triplas.
Eu era um cara estranho, e não me surpreendo em ver minhas fotos de criança: o mesmo rosto sério, sombrio, como que querendo enfrentar a morte de frente. Os olhos fixos nalgum ponto além do observador, como que desprezando aquela ridícula tecnologia de capturar um instante da minha vida e congelá-lo a nunca mais. Não me surpreendo também que, aos dez/onze anos, as diretoras e coordenadoras do colégio onde eu estudei suspeitassem, não sem indícios, que eu era um caso de antissociabilidade singular. Eu bambeava entre a bondade e a maldade, a ingenuidade e a precocidade de forma assustadora. Tenho certeza que fui o último aluno de todas as turmas nas quais estudei a ter parado de mijar na cama. Lembro-me com nitidez as fichas médicas escolares que meus pais anualmente preenchiam e nelas sempre constava um item cuja lacuna era prontamente preenchida: enurese noturna.
Lembro-me de enxaquecas tão fortes que eu me tornava fotofóbico ao abrir os olhos: a luz penetrava nas duas órbitas semicerradas e parecia que a dor se emanava da alma. Lembro de ter ido parar na direção por desenhar pênis e toda sorte de genitália no recreio. Quarta série. Tudo isso antes da quarta série. É o que se diria precoce, ainda mais tendo em vista que a explicação da querida professora Rosemary de termos vindo ao mundo, em sala de aula, era a de que papai havia plantado uma sementinha no solo (ou era colo?) fértil de mamãe e havíamos nos formado e nos nutrido no interior desse magnífico corpo reprodutor, produtor de pirralhinhos como eu. Boquiabertos escutávamos aquilo, e eu com vontade de me masturbar. Putz grila! Por que começou tão cedo? Bom, foi um alívio ouvir da boca de um amigo meu que ele começou aos sete! Ufa! Foi uma das melhores sensações de alívio que senti nestes curtos vinte anos. Sinto-me grato até hoje por essa confissão bem-humorada. Grato, sempre, pelo bom-humor descabido alheio. Rio por dentro e por fora como só eu.
Na quarta série eu provocava meninos maiores que eu, mais fortes, e mais inescrupolosos. Como apanhei... uma vez levei um chute triplo de Karatê Kid, em meio a fila de pingue-pongue que se aglomerava religiosamente no recreio. Chamei um cara loiro e rechonchudo, muito parecido com meu irmão, de viado e bicha. Fiquei chorando, sentado no banco de pedra da mesa descomunal de grande em que tomávamos nossos lanches. A Érica veio me consolar. Ah, os tempos das lancheiras adesivadas com nossos personagens de desenhos animados prediletos, lanchinhos meticulosamente preparados pela mamãe, embrulhados em plástico transparente ou alumínio, acompanhados de um desses leites achocolatados em caixinhas de 200ml, e montinhos de guardanapo branquinhos e asseados. Que alegria! Bisnaguinha com salame e manteiga, bisnaguinha com manteiga e queijo prato ou moçarela. R$1,20 para o pão de batata requentado da lanchonete e o refrigerante tomado no canudinho, tão gelado a ponto de gelar a testa... porque competíamos quem esvaziava o conteúdo mais rápido, e a testa parecia que ia pular fora da cabeça. Não importa, era gostoso pra caramba. O que não mata, engorda, e eu era bem fortinho. Uma criança de dar inveja - descontados meus problemas.
Fui pra direção por colocar os pés sobre a carteira enquanto a professora passava algum filme no escuro, ou algo do tipo. Havia apostado com meu grande amigo de aventuras da época, quem teria a coragem daquela façanha inaudita. E não nos desapontamos. Os dois destemidos pestinhas foram prontamente expulsos a brados da sala de aula. Olhares espantados de nossos colegas, autêntica incompreensão. O que estávamos querendo mostrar? A quem? Ao que parece, a nós mesmos.
Ou então quando esse mesmo Flávio, eu e o Caio combinamos de pedir pra ir "ao" banheiro e de não retornar à sala de aula. Decidimos nos esconder num banheiro que se mostrou pequeno demais para nós três e nossas sonoras e infantis gargalhadas. Puxa vida, o Caio ria rouco demais, o Flávio gargalhava cacofonicamente, e eu não deixava por menos, e uma assistente, bonita que só, veio bater à porta, exigindo que saíssemos. Direção de novo.
Ou quando eu e o Grabriel da Matta, judoca, um dos amigos mais singulares de minha infância, nos dispusemos a brigar - um por vez - com o Leonardo, garoto engraçado, sucesso na opinião feminina, e o Grabriel levou um chute que subiu como em câmara lenta do chão e foi fazer uns ovos mexidos no capricho quando alcançou o apogeu. Ai, essa doeu de verdade. Foi a primeira e única vez que vi o da Matta cair de joelhos e chorar. Direção de novo.
E quando, então, meti um tapa na boca da Júlia, pra ela parar de matraquear... depois do que ela nunca mais falou comigo. Chamei, num sábado de grêmio esportivo, o professor de Ed. Física de ladrão na cara dele, no meio do futebol. Me mandou pra fora da quadra e direto pra casa, não sem antes ter pedido pr'eu repetir o insulto, ao que eu repeti. Ué, não era homem (leia-se: pirralho) o bastante pra ter dito uma primeira vez? Pois que dissesse uma segunda. E arquei com as consequências.
Mas que tipo de "homem" exatamente eu era, se nos dias dos pais e das mães me sentia compelido a chorar, ao cantar as canções de fossa que treinávamos, as danças que preparávamos e chegar a hora do abraço, em que meu pai, sempre contido, uma mistura de reserva e amabilidade, e minha mãe, derretendo-se sempre como manteiga na frigideira, nos davam, me davam, aquela recompensa emocional que eu não podia compreender...
E na quinta série, em outra escola, quando bati no coreano Michel. Que besteira. Pois que até a oitava série não trocamos mais uma palavra sequer, um cumprimento. O mal havia sido feito, tudo por uma pedrada que levei no meio da testa, quando brincava sozinho no balanço do parquinho. Não fora ele que atirara, mas o Mário, e as últimas e únicas palavras do Michel dirigidas a mim, durante os quatro anos inteiros em que estudei naquela escola, foram: "Não fui eu, foi o M..." ... mas não conseguiu terminar. Numa impulsividade que eu desconhecia em mim, desferi soco após soco à Bruce Lee na boca do estômago dele, e me tornei, a partir daquela tarde, o inimigo número 1 da escola. O Michel estava naquela escola desde o berçário, conhecendo e sendo conhecido por todos, ao passo que eu era um mero bolsista novato com 70% de desconto nas onerosas mensalidades, cujo nome ninguém sabia. Até então. Pois passaram a saber. Cada cão louco tem seu próprio nome. Bati nele e fui embora. Nada de sangue, nada de marcas ou golpes no rosto. Eu era violento, sim, mas jamais um desalmado. A covardia de bater em quem se rendeu me repele. No dia seguinte havia um conglomerado me esperando, me espreitando, cochichando, me olhando e apontando (foi ele, mano! foi ele!) com olhos raivosos, ressabiados, aguardando o horário do intervalo, mãos se esfregando, bocas se contorcendo, gestos, dedos alheios indicando o meu magro corpo.
Foi o mais próximo que cheguei a um linchamento em massa. 11 anos de idade, sem saber o que eu fazia na vida, indo sempre razoavelmente bem nas notas e sendo um lobo solitário consumado, eu certamente sabia o que era me sentir um excluído. Não sintam pena: só a exclusão permite a liberdade do pensamento crítico para se escrever um texto como este, sobre um passado repleto de imperfeições, imprecisões, pontos sem nó e sem dó. Não tenho vontade de agradar a ninguém ou embelezar quem sou ou fui com ele, muito menos acusar ninguém pelos males que cometi, quero simplesmente relatar porção ínfima e talvez insubstancial de meu passado, nua e cruamente. O troço era feio, e fiz coisas audazes e malucas difíceis de crer, embora não se inclua nelas ter tirado a vida de nenhum ser vivo que não formigas, ou, no máximo, baratas. Matar mamíferos me evoca pena. Já comê-los, não. Também não estraguei a vida de ninguém, e tenho certeza que a minha perene sensação de culpa para com tudo e todos é ao menos dez mil vezes maior que a "atrocidade" dos meus atos - se fosse passível de ser mensurada. Um caso de superneurose controlada, provavelmente.
Aos 11 anos tomei coragem junto de meu novo amigo Flávio, japonês, para pedir o telefone da Carol, garota loira, linda, a primeiríssima e última loira pela qual me apaixonei. Ela era, para meus olhos de 13 anos, o mais próximo que já se chegou no mundo de se misturar tudo de bom da beleza de Uma Thurman com tudo de bom da beleza de Cameron Diaz. Era verdadeiramente linda, imbativelmente a menina mais bonita que havia posto os pés naquela escola, e, por natural dedução, no mundo. Não era preciso estar de queixo caído. Todos os garotos temiam sussurrar uma palavra que fosse a ela, acho que foi isso que a fez mudar de escola no ano seguinte. Ser bonito é bom, mas tanto assim não deve ser fácil. Estou debochando um bocadinho, mas tem aqui seu quinhão e quilate de verdade. Ela tinha um bom humor formidável, uma gargalhada marcante, e dois olhos grandes e belos de doer. Voz de mulher, atitude de mulher, alta, esbelta, cabelos lisos. Longos. Dourados. Toda ela era bela e cinderela. Meu coração batia forte, eu entrei cara e coragem na biblioteca, dirigi-me à sala de leitura e lhe disse: Carol, você pode me passar seu telefone?
Minha voz tremia, minhas pernas estavam cambembes, ela abriu um sorriso que me tirou o equilíbrio igual Velho Barreiro, e sua prima Tatiana, pequena e maliciosa, sentada a seu lado, riu em desprezo e escárnio, olhando-me de cima a baixo. A Carol me respondeu firme e com um leve suave sorriso nos cantos dos lábios: E quem é você? Eu balbuciei: F-F-ernan-do. A Tatiana exclamou, em derrisão, algo do tipo à prima: Fala Não pra ele! Dispensa ele logo! A Carol disse um límpido, assassino, curioso: Não. Tinha um quê de misericórdia na voz dela, uma hesitação galhofeira em decapitar o bandido, que parecia querer me dizer: ou eu nasci errado, ou cheguei da maneira errada. Ok, de qualquer forma, consolo zero. Meu mundo obscureceu, eu baixei a cabeça em vexame, saí da biblioteca em passos pesados, e o Flávio, sempre alegre e brincalhão, me disse: E AÍ, meu, conseguiu? N-não..., cara, ela disse não... AH, tudo bem, isso passa... NÃO vai chorar agora, NÉ?... Não... que isso! EU, cho-RAR? BAH!
Segurava as lágrimas quando minha mãe me buscou de carro naquele dia. Minha mãe perguntou se estava tudo bem, eu respondi um teso e taciturno "A-hã", ela saiu da cozinha pra pegar papel-toalha ou sei-lá-o-quê, e eu não me aguentei mais. Enchi até a borda minha piscina particular.
Nesse mesmo dia eu pronunciei uma máxima que se realizou: Vou deixar meu cabelo crescer por 5 anos, e só depois vou cortar. Vou virar monge. Claro, só falei a primeira parte pra minha mãe, que, conhecendo minha natureza de turrão e teimoso, sabia que era papo de piá maduro. Cumpri meia promessa. 3 anos de celibato total e cabelo comprido. Não há nada de romântico nisso - sofri pra dedéu. Era feliz, mas por essas escolhas ficava óbvio que me distanciava dos demais no que tangia à recém-descoberta iniciação tímida da sexualidade com o sexo oposto, e vi-me forçado a recusar uma por uma todas as garotas que me quiseram. Jamais me esquecerei do nome de cada uma delas, de seus rostos, de como elas eram bonitas, suas lágrimas ante à recusa, e quanto me machucava dizer "Não". A lição de dizer Não eu aprendi cedo. A ferro. A fogo.
Hoje eu sei que essa série de escolhas muito me ajudou, mas me custou caríssimo. Paguei com a minha própria pele e minha reputação. Se recusava mulheres só podia ser boiola (vocês não adoram este mundo determinista?). Mas, mãe, por que você tinha de me dizer aquela verdade lúcida, horrível, frankensteiniana, exatos cinco dias antes dos meus vinte anos?