quinta-feira, 19 de maio de 2011

Fútil Fardo

No derradeiro momento
Na hora final. Adeus
Neste assento em que me sento
Eu morri por erros meus

Minha certeza almejada
Minha ilusão construída
Ruiu a minha morada
Destruiu a minha ermida

Confiei no corpo, inércia
De estar bem até o além
De por muitas peripécias
Encontrar-me eu lá também
Tornar-me um herói da Grécia
Enganar... não sei a quem

Fiei-me no acaso, o prazo
De chofre expirou, se foi
Veio talvez com atraso
E eu pereci como um boi

Não fosse esse sol nascente
A me dizer: ei, acorda!
Pondo-me aos olhos a lente
Ver em meu pescoço a corda

A corda da morte aqui
Enlaçada firme e forte
Por fim eu a vi, a vi
A vida rumo a um norte

Tortuosos bairros, ruas
A noite escurece o olhar
Dia a dia a alma nua
Não consegue se mirar

Se o corpo rege a mente
O tirano toma o trono
A descrente mente mente
É o meu mundo sem dono

Barreiras intransponíveis
Pedras, cacos e destroços
Desce-se ao inferno em níveis
Já não posso... eu não posso

Talvez possa e quem dirá
O contrário, a negação
Desse sonho acolá
Antevendo a salvação

Morrer de uma vez pra sempre
Sorrindo por dentro ainda
Sem vergonha que me lembre
A terrível vida infinda

Semivida dum zumbi
Semimorto, semivivo
Em seu receio de si
Sem poder dizer: eu vivo.

Desacorrentado enfim
Não nos outros, mas na vida
Não em sonho, mas em mim
Minha terra prometida

Ancorar na tempestade
Na luta épica da alma
Coroar-me majestade
No deserto que desalma

A futilidade orgânica
Duma vida sem sentido
O pó, a cinza vulcânica
Dum nobre vulcão extinto

Cospiu feroz - e morreu
Tossiu, engasgou-se em si
Embevecido no eu
Múltiplo, vário, saci

O perneta traiçoeiro
O curupira nostálgico
Meteu o pé no bueiro
Perdeu a noção do mágico

Não escondido ou obtuso
Mas real, escancarado
Ai de mim quando eu acuso
Ser a vida eterno fardo.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Luziluzem Luzes

Labutei dias a fio
Foi sorrindo, foi suando
E no fim um elogio
Transmudou tudo em brando

Eu emagreci, sofri
Sem sequer saber por quê
E no fundo quem eu vi?
O reflexo de você

Objeto ou pessoa?
Era imagem ou miragem?
Ou uma súplica boa
Que os anjos me encorajem

A olhar valente a frente
Estendida horizontal
Não tornar-me um descrente
Na crua cela de cal

E talvez me ver no espelho
Duplicado em você
Com a morte me aconselho
Onde a sombra não se vê

Minha luz fraca e opaca
Pouco ilumina o semblante
Paira hesitante e estaca
De esperança radiante

Quem o resgata em naufrágio?
Meu espírito escravo
Um sussurro embora frágil
Resiliente... e bravo!

Ora! Não vá agora embora
Hoje não fuja de mim
Só vim à esta má hora
Tirar-te o não, dar-te o sim!

Não pergunto qual o prêmio
Se é nobre a iniciativa
Pois bêbado ou abstêmio
Trago mia mente cativa

Meditar a dor, compor
Um espectro reluzente
O hipócrita em horror
Jamais soube o que a alma sente

Se fraqueio ou cambaleio
O passo ébrio e desregrado
E o fogo em mim ateio
Faço tudo de bom grado

Já me desfaço em pedaços
Tal qual eu nasci e sou
A verdade qu'eu rechaço
Ela mesma me matou