terça-feira, 20 de abril de 2010

Permeabilidade

E como posso eu sozinho
Caminhar sobr'esta estrada
Pernoitar neste caminho
Onde reina a navalhada

E como posso eu mesquinho
Entender o universo
Bebum e ébrio no vinho
Derramado nos meus versos

Pinto diante do espelho
Um moço atraente imberbe
Pinta o viço em si o velho
Já tão bêbado se perde

Pede perdão de joelho
A batina no cabide
Sou um verme escaravelho
Mia fé tem dor de artrite

Dor, rinite, celulite
Meu casto corpo está gasto
A nostalgia me agride
Pervago no mar sem lastro

E me encontro do outro lado
Estranha figura eu vejo
Um duplo meu sem pecado
Livre de todo desejo

Liberto de todas peias
Face a face com si mesmo
Sem mais vontades alheias
Fluxo contrário ao esmo

Eis a essência do ser!
Ver-se entregue ao turbilhão
Leve leve esmorecer
No pulsar do coração

Bate bate repercute
Ecoa como a garoa
Dentro, a mãe sente o chute
Eis ao mundo uma pessoa

De déu em déu e de Deus
João, Mateus, Maria
Paria o útero grávido
Ávida fonte de "eus"

Populou-se o multiverso
Povoei-me cá por dentro
Em mim mesmo estou imerso
Gravito em torno do centro

Giram meus olhos na órbita
Dos mil astros da galáxia
Curiosidade mórbida
Volátil essência sáxea

domingo, 18 de abril de 2010

Anuaí


Nasce um pássaro de fogo
Denso silêncio da selva
No principado de Togo
Ensombrecido na névoa

Penas queimadas-carvão
Olhos brancos perolados
Perfuram a negridão
E a tumba do passado

Penetrar a ignorância
As chagas da violência
O destino ao qual se lança
Desd'a virgem mata densa

Crer ainda em homens sãos
Tira suas noites de sono
Um véu se põe entre irmãos
E os lega ao abandono

Como pode alguém ser dono
De alheia alma outra vida
Na alheia terra, o colono
Roga a um Deus fratricida

Ora em sua súplice hipócrita
Nomeia a si ortodoxo
Gera a irmandade inóspita
Engendra o seu paradoxo

Reza a si boas-venturas
Faz do vizinho seu pária
Leva uma vida segura
Entrega o outro à malária

"Demonizar-te eu irei!"
O algoz parece dizer
"Súdito, sou o teu rei!
Curva-te sob o poder!"

Tiranias e massacres
Vê do alto o sóbrio pássaro
Ó, Pandora, não há lacre...
O mundo é o enfermo Lázaro

Haverá hoje um Jesus...
Que o possa ressuscitar?
Sobram mártires na cruz
Negras candeias no altar

Sobram cárceres sem luz
Infames peias no lar
As verdades, quem traduz
Vira oferenda no altar

Falsidades vêm à luz
Quem quererá as olhar...
Mas o pisado alcaçuz
Derrubará o altar

sábado, 17 de abril de 2010

O que o vento não leva


Ver o verde de verdade
Vislumbrar a tal visão
A virtude e a vaidade
Já vêm vivas no verão

Viver sem ver a verdade
Dói-me enquanto humano
Vejo apenas veleidades
O obscuro véu insano

Vilifico minha vida
Em busca de instantes
Desvaneço em mia lida
E vivo inconstante

Em vão verto o vaso
De vinho vermelho e velho
Eu sou oco e raso
E ainda em mim me espelho

Sou o oco eco seco
A ruflar no mar vazio
Trecos, cacos, cacarecos
De meu terreno baldio

Vinténs voando ao vento
Varridos e sem valor
Serei eu este momento
Sem vocábulos de amor?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Testamento Póstumo


Pensamentos condensados
Num pedaço de papel
Pensamentos lado a lado
Num pedaço infiel

Falsidade ideológica
Eu - nem ali eu estou
Linhas sem eu e sem lógica
Sem meta, bola, sem gol

Quem por acaso aquilo escreveu
É vida sem prazo
Já não é mais eu

É o fundo do vaso
Tão meu quanto teu
O negro do ocaso
A sombra do breu

A flor - outrora se abriu
Sem sequer saber, viveu
Puro azo juvenil
Aquilo jamais foi eu

Entendes? Vejo tua face
Risonha - é um disfarce
A face dalguém a sonhar
Com dor se torna tristonha

A velha tricota alegre
Ignorante da morte
Célere como uma lebre
E nisto está toda sorte

A seta certeira
Virá amanhã
E esta cadeira
Será teu divã

As boas maneiras
Amor, foram vãs
Tornaram poeira
...teu taticumã

terça-feira, 13 de abril de 2010

Diabolismo Endemoinhado na Taverna de São Bento

Entrou um rapaz beiçudo
Ele era coxo e careca
Veio junto um cão-miúdo
E uma serpente irrequieta

Chamava o cão de Diogo
Coisa à toa de figura
Capa-verde cor de fogo
Já mostrava a diabrura

O indivíduo vil e sujo
Mancava no pé de pato
Diz-se amigo do cujo
Inimigo humano nato

Bebia só no caneco
Usava o membro canhoto
Cheirava à coisa o boteco
A bicho mofento e roto

Trabalhou como tendeiro
Bem tramava tentação
Cão-tinhoso e o companheiro
De pé-cascudo no chão

Pé ruim feito pé-de-cabra
Mal-encarado e careta
Sua esposa, a diabra,
Se apelidava Canheta

Eu pensava em coisa-má
Quando entrou o porco-sujo
Olhos mofinos, sabujos,
O seu nome era Diá

"Não devo pro debo
Não sou condenado!
Sou porco-mancebo
Sou o arrenegado!"

"Este lugar é sarnento..."
Foi falando o gato-preto
"Pois tem fala o bicho-preto?!"
E benzeu-se o Seu Bento

Não sei que diga, menino!
Um rabão rompeu a porta
Veio um mau cheiro malino
Veio a diáboa torta

Temba! A cabeça na táboa!
Lá fora o dragão se riu
Rabudo não guarda mágoa
Pé de peia não tem frio

"Na rodovia Anhanguera
Passam muitos bodes-pretos
Grão-tinhoso e a galera
Colecionam esqueletos..."

Pé de gancho, ex-pirata
Foi entrando e logo disse
"O maioral está triste
É a droga do haxixe!"

"Coisa-ruim nunca quis morte..."
Prosseguiu o anhangá
"Nem tem corte a foice d'ele -
Tampouco a de Satanás"

"Rodovia é diabo humano!
O excomungado dianho
Gosta é de briga, que diga!
Ama atrito a diabada...!"

Um treme-terra abalou
O prosear do satânico
"Lúcifer deu um alô..."
A taverna entrou em pânico

Logo adentrou um moleque
"Gosto de fute, cafute
Futebol e muito cheque
Diabretes nuas ao sol"

O pé-preto é bom de papo
Tem o timbre tentador
O diabim é esperto inato
Nem sei que diga é o amor...

A taverna encheu de demo
Anhanga grande e pequeno
E até um bebezinho
Romãozinho Nazareno

O cifé e o demônio
Com sono, bebiam café
Pedro-Botelho, o galã
Cochichava com Satã

Seu irmão gêmeo viera
Era o tal Pero-Botelho
Caolho dum olho e outro
De alcunha Capiroto

Capete Capeta viu
Da porta o aglomerado
Reluziu seu rebolado
Sorriu maligno e malvado

Sapucaio e seu aio
Entraram bem de finim
Na coleira o canhim,
O cachorrinho azucrim

Cafuçu, o Zulu,
Pulou de bute e de bote
"O que vale é o diale!"
Revidava piparotes

Debaixo do chão pra riba
Pulou o grão-diacho
Mordia seu pão dialho
Requentado no tição

"Ê ambiente maldito"
Berrou e gemeu Seu Bento
"Tinhoso não é mais mito...
O Tisnado está cá dentro!"

***

Tarefa: Encontre ao menos cem epítetos do tal!

***

Resposta(dispostos em ordem de aparecimento; as variações de um mesmo termo existem de fato, não foram inventadas!):

diabolismo, endemoinhado (2) [título do poema]

rapaz, beiçudo, ele, coxo, careca, cão-miúdo, serpente, cão, Diogo, coisa à toa, figura, capa-verde, diabrura, indivíduo, sujo, pé de pato, cujo, inimigo, caneco, canhoto, coisa, mofento, tendeiro, tentação, cão-tinhoso, pé-cascudo, pé-de-cabra, mal-encarado, diabra, canheta (30)

coisa-má, porco-sujo, mofino, diá, debo, condenado, porco, arrenegado, sarnento, gato-preto, bicho-preto, não sei que diga, rabão, mau, malino, diáboa, temba, dragão, rabudo, pé de peia, anhanguera, bode-preto, grão-tinhoso (23)

pé de gancho, maioral, droga, coisa-ruim, anhangá, Satanás, diabo, excomungado, dianho, que diga, diabada, treme-terra, satânico, Lúcifer, moleque, fute, cafute (veja com que rimou "fute" e "cafute"... é ou não é conterrâneo nosso?), diabrete, pé-preto, tentador, diabim, nem sei que diga (22)

demo, anhanga, Romãozinho (volte ao poema e veja onde "Romãozinho" foi nascer!), cifé, demônio, Pedro-Botelho, Satã, Pero-Botelho, capete, capeta, maligno, malvado, sapucaio, canhim, azucrim, cafuçu, bute, diale, diacho, dialho (confira o contexto de "dialho"!), tição, maldito, tinhoso, tisnado (25)

***

[Consulta do vocabulário para composição do poema: sinonímia de "diabo" no dicionário Houaiss de Língua Portuguesa - esse auxílio léxico foi imprescindível! -, e do próprio João Guimarães Rosa, minha maior inspiração imagética para compor esta brincadeira lírica ao mesmo tempo culta, alegre, popular e macunaímica. O ateu que ler este poema volta a crer em Deus! Nem queira apostar...]

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Pesadelos d'El Salvador (atualizado em 10/09/2010)


Eu bebi, meu bem, bebi
Pesadelo a noite inteira
Pós o rum co'abacaxi
Quem dera fosse a primeira

Você mugia canhestra
Balia em timbre soprano
Uma cena picaresca
Sem como, onde, nem quando

Monsenhor Romero* estava
Pregando homílias no púlpito
Postura ereta, voz cava
Tudo cessou tão de súbito

Ó branda dita mal dita
Dura, acerba rapa dura
É dita e feita e desdita
Açucarada tortura

Eu bebi, meu bem, bebi
Mas jamais pude esquecer
A cena guardada aqui
Você, o nosso bebê...

Cadê.

***

* Monsenhor/Dom Óscar Arnulfo Romero Galdámez, mais conhecido apenas como "Monsenhor Romero", ou "Dom Romero", foi assassinado em 24 de março de 1980, quando reinava o terror em El Salvador, em mais um golpe militar apoiado pelos Estados Unidos da América. Ele havia acabado de pregar uma de suas notáveis homilias ("exortação religiosa fundada num ponto da Escritura"), em que debruçava-se sobre a religião cristã para combater com palavras enérgicas e valentes a ditadura que se instaurara sorrateiramente em seu país. O projétil fatal foi disparado de uma distância de 45 metros, atravessando a praça em frente à igreja, suas portas de madeira esculpida abertas, e acertando o alvo em cheio na testa. A mira de um mercenário, franco-atirador, mui bem treinado. Seu(s) assassino(s), assim como os cúmplices e os mandantes do crime, jamais foram condenados - e não há indício algum de que algum dia o serão. Já é tarde. E a justiça não raras vezes falha com o tempo.

Monsenhor Romero era de uma tal bravura que, tendo conhecimento da presença de elementos do setor militar nas missas que rezava, em momento algum mostrou-se inibido em contrariar o silêncio do sistema ditatorial, silêncio ancorado na violência, e esta naquele, num elo inquebrantável de abusos de poder, chacinas e assassinatos promovidos para eliminar todos os - supostos, isto é - opositores. E dessa forma intrépida Dom Óscar Romero contrariava os interesses dos altos escalões militares-políticos em manter o povo - a grande maioria frequentadora dos ofícios litúrgicos cristãos - na mais escura ignorância e sensação de impotência.

Romero restaurava o poder da voz em direção à verdade e desmentia as falácias do governo, abertamente tirano e carrasco. Muitas foram as homilias em que julgou execrável a atitude cínica do governo de perseguir e matar membros do campesinato, e arruinar quaisquer planos de melhorias sociais à miserável nação. Foi um desses homens nos quais a fé suprema liga-se à coragem d'alma, e ambas andam inexoravelmente de mãos dadas. Um dentre esses poucos que podem mudar o coração dos homens alienados para melhor, pela pura probidade e idoneidade de caráter que demonstram em suas ações, e não meramente por palavras dispersas ao vento.

Descanse em paz, Monsenhor Romero. E um brinde malogrado aos nossos tempos tupiniquins modernos de corrupção, nepotismo, propinas, subornos, velados desvios de verba e prosperidade dos oligarcas, aproveitando-se da ignorância predominante da população governada - alienada, viciada em Big Brother, novelas imbecis e seriados televisivos (importação direta da onipresente telebasura estadounidense), e que confiam em demasia no sanduíche (Futebol + "Notícia Ruim" + Inutilidades) extra-light do Jornal Nacional, e extensivamente não-política, não-literária, não-sabedora do que sua estupenda nescidade provoca, indiretamente, a nível político, sob o domínio dos psicopatas no poder.

Um viva aos mártires, que se vão e são, para o espanto dos homens conscientes, definitivamente esquecidos e enterrados dentre as ruínas da história, com 'h' minúsculo, porque eternamente corrompida por - e creditada aos - vencedores, cuja atribuição maior é uma maior tendência e capacidade para a brutalidade generalizada, além de uma propensão crônica ao unilateralismo de pensamento, também caracterizado como estupidez incurável.

Uma bênção a Malcom X, Robert F. Kennedy, John F. Kennedy, Martin Luther King Jr., todos eles vistos em sua turbulenta época como uma grande ameaça ao status quo, e devidamente apagados das páginas da história. Dorothy Stang, Chico Mendes. Seus assassinos são joães-ninguéns, claro. Por que não crer na versão oficial dos fatos? Os tempos de dita dura (ou seria dita branda, Folha de São Paulo?) já passaram, pois não é? Não, não é não. A diferença é que de escancarada passou a silente, e a braveza de todos tornou-se dormente. Vivemos uma sociedade sem heróis, sem mais o protótipo do Che revolucionário, de um mundo genuinamente melhor. Simplesmente aceitamos tudo, anuímos dopados pelo soma hodierno, e morremos lentamente numa lassidão de espírito vergonhosa.

Pois vergonhosa.

***

Recomendo de coração, por fim, o filme do sempre excelente cineasta Oliver Stone: Salvador (1986).

domingo, 11 de abril de 2010

Maria


Um doce de moça
Me faz companhia
Um beijo que fosse
É nossa alegria

Tão bem lava a louça
Tão bem limpa a pia
Que prazer de moça
Mia virgem Maria

Gostoso ela ri
Cheinha de luz
Seus lábios sorri
E me põe na cruz

Tão pura, tão simples
Maria, Maria
"Cadê teus requintes?"
A gente dizia

A moça é comadre
Na dança arrepia
Atrai até padre
Tão bem rodopia

Maria, Maria
Você se escondia
Debaixo da pia
Brilhava e sorria

Maria, Maria
Tu és estrangeira
De Andaluzia
Lá eras parteira

Ao mundo trazia
Crianças prendadas
A grande alegria
Em ti revelada

Nasciam sorrindo
Olhando pra ti
O céu se abrindo
De estares ali

Um mundo magia
Pulava o saci
Maria, Maria
Tão bela te vi

Daria hoje tudo
Pra ver-te de novo
O sol rechonchudo
Eu louvo, eu louvo

***

Escrito após assistir ao lindo filme Mutum (2007, dir. Sandra Kogut), baseado livremente em um conto de João Guimarães Rosa - conto este que eu particularmente desconheço. Um filme muito inspirador, por remontar as origens do meu próprio pai. Maria, um nome tão comum, pode se transbordar de um sentimento bem incomum neste mundo nosso: o amor cordial, fraterno, ingênuo: o único real amor.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Haicai Insubmisso (I)

Ah, vida!
Mostra-me tua ferida
Existencial

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Bright You


The pencil was incredibly sharp
As it scribbled in the dark
The lead wrote in remarks

Your world is dark
Your soul sparks

Long-fanged sharks
Live in dark-blue
Your soul sparks
Your soul is you

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Fim da Heroicidade (II)

Não creio em heróis
Não creio em vilões
São ambos os mesmos
Iguais as canções

Stálin o monstro dorme
Tranquilo em seu mausoléu
Ri em seu rosto disforme
Repousa em seu cilo o réu

Quem ora venceu
Tudo cometeu
Atos tão ateus
Pois nunca houve um Deus

Em nome do eu
Se fez o sagrado
Em nome do eu
E o mal coroado

À frente canhões
Para a batalha
À frente sermões
Para a mortalha

À frente reis vis
Toda a canalha
À frente guerreiros
Por sob a malha

Soldados de chumbo
Condecorações, medalhas
O céu róseo-plúmbeo
Em luto se cala

A luta na vala
Trincheiras exangues
Maneiras de sangue
O sangue na sala

O rifle e o fuzil e as balas
Cartuchos, cantis, balelas
Homens murchos, pueris
Sequelas da guerra exalam

Postos de combate póstumos
Virilidade senil
Marionetes se prostram
Ao sempre à margem do rio

terça-feira, 6 de abril de 2010

O Fim da Heroicidade (I)

Cinzas jamais plantam mudas
Cinzas dispersas
Cinzas silentes
Miúdas, graúdas: mudas

Perdem todas sua cor
Pelo vento a seu sabor

Cinzas cinzentas lançadas
Pó seco, crespo, tão branco
Cinzas ao vento aladas
Indissolúveis no pranto

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Fluxo Doentio

Anita Malfatti: O homem amarelo II (1915)

Eu me olho nos seus olhos
Eu me enxergo tão simplório
Pelo reflexo molhado

O que é que há em mim
Eu me vergo em meu jardim
Vou em busca de jasmins

Cavo a terra com mias mãos
Faço minha ablução
Grãos e sementes desterro

Garras ferrenhas me arranham
Soco o chão em solidão
Vozes atrozes me chamam
Não aceitam negação

São minhas as vozes
São minhas neuroses
São meus os algozes

Vozes velozes
Me tornam um celerado
Tresloucado acelerado

Não posso apartar
Virtude e pecado

domingo, 4 de abril de 2010

Ramadã Eterno


Fanfarrões jamais
Faltarão no mundo

O poeta abstém-se de farras
Põe-se em sua alma triste
Pr'assim livrar-se de amarras
E manter-se sempre em riste

sábado, 3 de abril de 2010

Sufi

Frustrado, sim
Eu estou muito frustrado

Já não sei a quem buscar

Se na vida resultados
Ou no Além o Alto Alá

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Poeta Profano Sonha Com Deus


Nutre o poeta um desdém
Abstêmio em seu coração
Por coisas do mundo aquém
Pronto a dizer sempre um não

Asceta d'alma e de vida
Difícil fundir-se ao mundo
É sua alma sua querida
Mergulhá-la no profundo

Sonhar à noite com astros
Fatos calcados em si
Veleja ao mar sobr'o mastro
Ouve o silente cri-cri

Coisas quais eu nunca vi
Surtem efeito em meu imo
Livros quais eu jamais li
Lançam-me ao monte e ao cimo

Estou cá, posto defronte
A Deus, Iavé e Alá
Cá eu leio Xenofonte
Embebido em meu maná

As histórias do orbe
As memórias do globo
Meu espírito absorve
E ausculta a tudo probo.

***

Xenofonte de Atenas, filósofo e historiador grego (Erkhia, Ática, c. 430 a.C. - ? c. 355 a.C). Foi discípulo de Sócrates, cujos ensinamentos o marcaram em definitivo. Sua obra inclui tratados relativos a Sócrates (Memórias de Sócrates), relatos históricos (Helênicas), obras técnicas (A economia, A equitação), políticas (A República dos Espartanos), e um romance histórico (A Educação de Ciro).

[Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998]

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Memórias Compiladas de Raimundo Nonada

Eu numerei postumamente todos os arquivos da minha mente. Em cada um deles havia a seguinte instrução: Pule este, passe para o da frente. Pule este, passe para o da frente. No fim, não havia nada. No nada, não havia fim.